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O Sporting vinha a atravessar uma profunda crise financeira desde a construção do Estádio José Alvalade em 1956. No fim da Gerência de 1958, discutia-se não apenas a urgência de profissionalizar totalmente o Futebol, como a necessidade de estancar os gastos com as secções amadoras. No entanto, nos anos seguintes a equipa de futebol, órfã dos Cinco Violinos, não conseguiu reproduzir o sucesso dos anos 1950, enquanto que as modalidades iam acumulando títulos.

Em 1964, com a conquista da Taça das Taças, o futebol tinha alcançado a glória, mas a dívida do Clube tinha atingido proporções consideradas inaceitáveis, da ordem dos 29 mil contos. O Relatório e Contas de 1964 refere perturbações na gerência decorrentes de "dificuldades de tesouraria, que, quase se pode afirmar, só milagrosamente foram resolvidas.". Para piorar os ânimos, o início da época 1964/65 tinha sido muito mau, levando à pior classificação de sempre no Campeonato Nacional no fim de 1964.

Em Agosto de 1964, o deficit das várias secções era: Atletismo, 289,9 contos; Badminton, 6,8 contos, Basquetebol, 98,4 contos, Bilhar, 1 conto, Ciclismo, 239,8 contos, Futebol, 614,4 contos, Ginástica, 81,3 contos, Andebol, 82,8 contos, Hóquei em Patins, 29,1 contos, Motorismo, 362 escudos, Pesca, 670 escudos, Pugilismo, 5,6 contos, Râguebi, 16,3 contos, Ténis, 320 escudos, Ténis de Mesa, 21,8 contos, Tiro, 4,1 contos, Voleibol, 43,4 contos, e Xadrez, 36 escudos, com as secções de Natação e Tiro com Arco a não apresentarem movimento financeiro. O Sporting não tinha meios para fazer face aos compromissos, e por vezes nem havia dinheiro para pagar ao pessoal.

Destas modalidades, as mais dispendiosas eram de longe o Atletismo e o Ciclismo. O desaparecimento do Atletismo, que sempre foi a modalidade mais importante no Clube a seguir ao Futebol, nunca esteve em causa. O Ciclismo, com menos tradição mas com grandes vitórias recentes, só pôde continuar porque apareceu um patrocinador, o Gaz Cidla, que veio suportar uma grande parte dos encargos e assim viabilizar a continuidade da modalidade. Em 1965, as camisolas do Ciclismo foram as primeiras do Sporting a apresentarem a publicidade do patrocinador.

Acabaram por ser extintas três modalidades, todas no mesmo dia, 7 de Outubro de 1964: o Badminton, que era uma modalidade que tinha estado em crise em Portugal, e em que o Sporting já não tinha os mesmos êxitos dos anos 1950; o Voleibol, que apresentava um deficit grande sem ter sucesso desportivo. Com efeito, há dois anos que não se qualificava para o Campeonato Nacional, e a última vez que tinha participado tinha sido na 2ª Divisão. Era também uma modalidade pouco popular em Lisboa; finalmente, foi extinta a secção de Râguebi, com o argumento de que o campo de treinos já não estava disponível, embora campos se possam alugar, desde que haja os meios financeiros para tal.

Com é óbvio, isto não resolveu nenhum problema financeiro do Sporting, e em 1965 instalou-se uma crise, em que chegou a estar em cima da mesa acabar com as Modalidades quase todas. Levantaram-se vozes contra essa eventualidade, como a de António Horta Osório, e finalmente a crise foi resolvida com a Comissão Directiva de Brás Medeiros, o qual colocou condições para regressar à Presidência do Sporting Clube de Portugal, entre as quais estava incluída a não extinção de mais nenhuma modalidade, as quais teriam no entanto de adoptar o puro amadorismo. Apareceram então grupos de apoiantes de modalidades, como o Grupo dos Amigos do Basquetebol ou do Atletismo, que vieram prestar apoio, incluindo financeiro.

Salvou-se assim o eclectismo do Sporting, um dos baluartes do Clube, gerador de inúmeros sucessos, e motivo de orgulho dos sportinguistas. O Voleibol viria a reaparecer, para voltar a ser extinto por Santana Lopes em 1995. O Râguebi só em 2012 voltaria ao Clube. E o Badminton desapareceu de vez.