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Gerência anterior:
A Gerência 1963/64
Gerência seguinte:
A Comissão Directiva de Brás Medeiros

No dia 28 de Abril de 1964 foi eleita uma nova a Direcção, que tomou posse em 29 de Maio, com a seguinte constituição:

Cargo Nome Observações
Presidente Martiniano Alexandre Pissarra Homem de Figueiredo
Vice Presidente para as Relações Externas Fernando Barros Vieira Ramos
Vice Presidente para as Actividades Desportivas Jaime Gomes Duarte Até 14-12-1964
Vice Presidente para as Actividades Administrativas António Pinto de Sousa
Secretário- Geral Carlos Marques Loureiro Até 14-01-1965
Secretário- Geral Artur Madeira da Silva Desde 6-5-1965
Director da Coordenação, Planeamento e Desenvolvimento João Ramos Mendes
Director-Contabilista Manuel dos Santos Passinhas
Director-Tesoureiro José Cortês Alves de Figueiredo Até 14-12-1964
Director-Tesoureiro Abraham Hierch Sorin Desde 6-5-1965
Director das Instalações Desportivas José António Arsénio Até 03-03-1964
Director das Instalações Sociais Manuel Lopes
Director Desportivo Carlos Artur Radich
Director Desportivo José Carlos Marques Pinto de Oliveira
Director Desportivo Armando Maria Antunes Lima Até 14-12-1964
Director Desportivo Joaquim Lourenço Bernardo Até 14-12-1964
Director Desportivo Adolfo da Silva Figueiredo Até 14-12-1964
Director Desportivo Moisés Ayash Desde 15-12-1964
Director Desportivo Joaquim Cândido da Silva Desde 6-5-1965
Director Desportivo José Maria Martins Canhoto Desde 6-5-1965
Director Desportivo José Paulo de Brito Chaves Duarte Desde 6-5-1965
Director Desportivo José Cortês Alves de Figueiredo Desde 6-5-1965
A passagem de testemunho entre Presidentes
O Sporting é agraciado com a Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Lisboa
Góis Mota de saída
O Ringue de Alvalade
André Navarro na reunião de preparação do Conselho Geral
A Assembleia Geral de Maio de 1965
Fernando Ramos expõe a situação

O Sporting tinha acabado de conseguir um feito único na sua história, ao ganhar a Taça dos Vencedores das Taças, o que lhe valeu ser agraciado pela Câmara Municipal de Lisboa com a Medalha de Ouro da Cidade, mas nem por isso navegava em águas calmas.

A Gerência anterior deixara uma dívida de 29 mil contos, grande parte dos quais relativos à construção do Estádio José Alvalade, mas o Futebol continuava muito deficitário e só nos primeiros cinco meses de 1964 tinha dado um prejuízo superior a 600 contos, apesar das receitas da Taça das Taças terem ultrapassado os mil contos.

No meio da tanta agitação o Sporting parecia ser um Clube ingovernável, e o Vice-Presidente Fernando Ramos chegou avisar que se ninguém ajudasse corria-se o risco de não haver dinheiro para pagar aos jogadores, pois estimava-se que no final do ano houvesse um deficit de cerca de 5100 contos. De resto, no final de Julho de 1964 realizou-se uma Assembleia Geral onde mais uma vez foi discutida a complicada situação financeira do Clube, que recomendava uma contenção de custos que chocava com a necessidade de reforçar a equipa de Futebol.

Apesar de tudo a nova Direcção continuou a investir forte no Futebol e voltou a mudar de treinador, tentando contratar Fernando Riera que pediu muito dinheiro, pelo que veio o francês Jean Luciano e trouxe com ele o avançado Jean Pierre Serra, isto sem esquecer a contratação de João Lourenço e os reforços africanos João Carlos, Armando Manhiça e Carlitos, este último um caso que se arrastou durante meses, numa altura em que os sportinguistas ainda não tinham ultrapassado o "trauma Eusébio", pelo que se desdobraram em esforços para não perder mais uma pérola africana. Em contrapartida a Direção despachou 5 dos 7 brasileiros do plantel, em nome da nacionalização da equipa.

Mesmo com estes investimentos o Futebol ia de mal a pior e antes do final do ano Jean Luciano foi despedido, deixando a equipa no 11º lugar do Campeonato e um lastro de 6 derrotas e 3 empates em 15 jogos, mas exigiu os pagamentos que lhe eram devidos e pôs o Clube em Tribunal. Nessa altura a contestação já era muita e logo aí surgiram as primeiras demissões na Direção, com o já muito criticado vice para as atividades desportivas Jaime Duarte a bater com a porta, seguido pelos diretores do Departamento de Futebol.

No meio de tudo isto havia quem insinuasse que Juca era um foco destabilizador do plantel leonino, pelo que o treinador do futebol jovem do Sporting apenas aceitou o comando da equipa principal num período de transição que fixou em 10 dias, ou seja até ao jogo de Cardiff, onde o Sporting foi eliminado da Taça das Taças.

Voltou a falar-se de alguns nomes estrangeiros principalmente do espanhol António Ramallets, mas após alguma insistência confirmou-se o desejado regresso de Anselmo Fernandez ao comando do Futebol leonino, formando equipa com o "velho mestre" Joseph Szabo e o Prof. Reis Pinto. No entanto a época já estava arruinada, de tal forma que foi uma derrota da equipa de Reservas em Alvalade que custou o Campeonato Regional da categoria, a gerar uma contestação tal, que 4 dias depois a Direção demitiu-se em bloco. No dia seguinte reuniu-se o Conselho Geral que afirmou por aclamação a sua confiança na Direção demissionária, manifestando uma firme repulsa pelos factos ocorridos no dia 9 de Janeiro de 1965 no Estádio José Alvalade.

Assim a Direção acedeu em continuar à frente dos destinos do Clube, desde que lhe fossem dadas condições para solucionar o problema do passivo do Sporting, ao mesmo tempo que foi decidido substituir o demissionário Vice Presidente para as Actividades Desportivas por uma Comissão de Téccnica e Política Desportiva presidida pelo Dr. Salazar Carreira e da qual também faziam parte Anselmo Fernandez, Lélio Ribeiro, Marques de Almeida, Correia César e Mário da Cunha Rosa.

Foi nessa altura que foi tornado público o parecer da Comissão de Finanças do Conselho Geral sobre a proposta de orçamento para o exercício de 1965, assinado por Nunes dos Santos e Alfredo Mourão de Morais, onde se afirmava que a crise do Clube só seria resolvida com dinheiro e organização, duas coisas que escasseavam no Sporting, o que só poderia ser ultrapassado se as elites da coletividade em vez de se odiarem cordialmente, trabalhassem em comunhão de interesses, pelo que se apelava a que o bom senso prevalecesse, ao mesmo tempo que se apresentavam como alternativas imediatas para remediar a situação, o aparecimento de um grupo de sócios com sólida situação financeira que obtivesse junto da banca um regime suave de amortização da dívida ou, oferecessem o seu aval para a obtenção de um crédito a longo prazo que permitisse a liquidação imediata dos empréstimos bancários vigentes.

Sucederam-se as polémicas, ameaças de demissões e reformulações directivas, que resultaram na profunda Crise de 1965, que viria a terminar com a eleição por aclamação de uma Comissão Directiva liderada por Brás Medeiros, que ocorreu na histórica Assembleia-Geral extraordinária do dia 2 de Julho de 1965, depois de aceites as condições impostas por aquele dirigente para regressar à Presidência do Sporting Clube de Portugal.

Em termos desportivos, se o futebol profissional foi um desastre o sector da formação viveu uma época de ouro sob o comando de Juca, com o Clube a conquistar os títulos nacionais de Juniores e Principiantes.

Nesta altura foram extintas algumas secções e imposta uma clara separação entre o amadorismo e o profissionalismo, com o Ciclismo, graças ao patrocínio da Gazcidla, a juntar-se ao Futebol como as únicas modalidades profissionais. Só o Atletismo passava ao lado da crise e continuava a somar títulos, com Manuel de Oliveira a obter o 4º lugar na corrida dos 3.000m obstáculos dos Jogos Olímpicos de Tóquio, onde marcaram presença sete atletas do Sporting, em representação de três modalidades. O Andebol também continuava a honrar as tradições do Sporting e neste período foi Campeão Regional nas duas variantes e abriu o caminho para o segundo Campeonato Nacional ganho em Andebol de 11.

Em termos financeiros esta Direcção conseguiu reduzir o passivo em 760 contos, graças aos donativos de alguns sócios que atingiram a notável quantia de 1676 contos e à campanha de Títulos Patrimoniais, cujos resultados mesmo assim foram considerados algo desanimadores, mas o saldo final da gerência apresentou um deficit de quase 605 contos, cerca de 406 referentes ao exercício e 199 relativos a amortizações e reintegrações.

As despesas gerais ultrapassaram os 1390 contos, o Futebol custou praticamente 9 mil contos, o Ciclismo chegou aos 640 contos e as restantes modalidades resultaram em encargos de cerca de 1683 contos. A manutenção do campo atlético voltou a andar à volta dos 1000 contos aos quais há a abater receitas de 421 contos e as despesas com o Posto Médico aproximaram-se dos 478 contos.

No que diz respeito às receitas, as associativas atingiram os 473 contos numa altura em que o Sporting tinha 23922 sócios, menos 814 do que há um ano atrás, uma redução resultante do aumento das quotas. As receitas referentes à atividade desportiva fixaram-se nos 7085 contos, 6835 relativas ao Futebol, 161 resultantes do Ciclismo e 89 oriundas das restantes modalidades, pelo que num balanço final se pode concluir que o deficit da atividade desportiva do Clube ultrapassou os 4220 contos.

O Jornal Sporting foi deficitário em 41 contos, mas curiosamente as secções recreativas renderam exatamente a mesma quantia.

Foi também nesta altura que foi profundamente remodelado o Rinque de Alvalade, uma estrutura que passou a servir o Andebol e o Hóquei em Patins.

To-mane 16h04min de 4 de Novembro de 2011 (WET)