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A 30 de Abril de 1995, Sousa Cintra anunciou que o seu mandato como presidente do Sporting Clube de Portugal seria o último, e que não se iria recandidatar. Em simultâneo, foi apresentada a lista que iria concorrer às eleições de 2 de Junho, com Miguel Galvão Teles, Santana Lopes, e José Roquete como presidentes da Assembleia Geral, Conselho Directivo e Conselho Fiscal.

Nume entrevista publicada no Jornal Sporting de 30 de Maio de 1995, Santana Lopes, já virtualmente o futuro presidente do Sporting visto não haver mais listas apresentadas às eleições, deu voz à intenção de reduzir o número de modalidades de alta competição. Essa intenção já tinha sido considerada por várias vezes nos anos anteriores, mas nunca tinha sido levada por diante. O último orçamento apresentava números deficitários para as modalidades que, no seu conjunto, era superior ao deficit do futebol. Para além disso, tinha-se definitivamente instalado a realidade que algumas modalidades eram dominadas por clubes pequenos que se dedicavam a apenas um ou dois desportos, e conseguiam assim ser competitivos, levando ao aumento de custos para os clubes eclécticos que desejassem manter-se competitivos.

Santana Lopes declarou: "O Sporting não pode andar nestas andanças, e teremos que adequar as modalidades ao que se passa nos outros clubes europeus, que se traduz na redução das modalidades de alta competição para duas ou três, mais o futebol, e o resto dedicar-se-á ao trabalho de formação e iniciação. Não faz sentido ter seis ou sete modalidades de alta competição mas, se as ditas modalidades mostrarem viabilidade económica, evidentemente que terão lugar no Clube, adoptando uma vertente menos competitiva e mais de formação. Logo se verá se os sócios querem que sejamos nós a escolher, em Assembleia Geral, quais as modalidades de alta competição…". E continuava: "Não podemos continuar a funcionar como sacos sem fundo, onde, todos os dias, me telefonam para anunciar contratações, quando as receitas não compensam minimamente investimentos dessa ordem. (…) De uma coisa os associados do Sporting podem estar certos: esta Direcção não vai recuar."

Logo depois da eleição que marcou o início do projecto Roquete, na Assembleia-Geral eleitoral realizada no dia 2 de Junho de 1995, Miguel Galvão Teles declarou aos sócios "a decisão final sobre as reformas que trazemos no nosso programa, será sempre a vossa.".

Em reunião efectuada a 12 de Junho, a Direcção decidiu extinguir as secções de Hóquei em Patins e de Voleibol, e suspender as de Andebol e de Basquetebol até decisão dos 41 mil sócios efectivos por realização de um referendo, para escolher ou uma ou nenhuma destas modalidades para acompanhar o Atletismo como modalidade de alta competição do Sporting.

O referendo decorreu entre 20 de Junho e 3 de Julho, e cada sócio teve direito a um voto, contrariamente à situação normal, por exemplo nas Assembleias Gerais, em que o número de votos dependia da antiguidade. Entretanto, o Sporting tinha conquistado a Taça de Portugal, o primeiro grande troféu do futebol em 13 anos, levando a que muitos sócios relativizassem a importância do desaparecimento de modalidades históricas.

Moniz Pereira, Vice-Presidente do Conselho Directivo com o pelouro das Modalidades, declarou ao Jornal Sporting de 20 de Junho "Uma das razões por que aceitei ser Vice-Presidente para as modalidades foi porque o Presidente Santana Lopes me disse logo de início que a modalidade número um, depois do Futebol, era o Atletismo.". E continuava: "Se o Sporting continuasse a despender as verbas verdadeiramente assustadoras como tem feito no Basquetebol, Andebol, Voleibol e Hóquei em Patins, por exemplo, nos últimos quatro anos, estou convencido da falência do Clube. Por isso, foram tomadas medidas drásticas e impopulares.". No mesmo jornal, foram apresentados os dados sobre a situação do Andebol e de Basquetebol:

Situação-andebol-basquete-1995.jpg



Os directores das secções de Andebol, Diamantino Ribeiro, e de Basquetebol, Edgar Vital, fizeram campanha pelas suas modalidades. Diamantino Ribeiro, que anteriormente tinha sido coordenador para a alta competição do Basquetebol, prometeu que o Andebol iria lutar pelo título imediatamente, e defendeu também que a modalidade que perdesse deveria continuar com os escalões de formação, de modo a permitir o seu reactivamento pleno assim que possível. Disse ainda que seria possível manter as duas modalidades se o Atletismo se circunscrevesse ao meio-fundo e fundo, onde o Clube era mais forte. Edgar Vital, que tinha começado a sua carreira desportiva na formação leonina do Andebol, prometeu uma modalidade muito competitiva, e referiu o maior coeficiente de receitas em relação aos custos, bem como a popularidade da modalidade, que tinha levado o Benfica a declará-la como segunda modalidade, a seguir ao Futebol.

No referendo votaram 20576 sócios, por correspondência, entre 40784 possíveis. O Andebol ganhou, com 10222 votos correspondendo a 49.7%, seguindo-se o Basquetebol com 5416 votos correspondendo a 26.3%. 4278 sócios, ou seja 20.8%, teriam preferido não manter nenhuma das duas modalidades. Os votos nulos e brancos perfizeram os restantes 660 votos. Ficava assim selado o fim do Basquetebol no Sporting, pela segunda vez.

Para além dos resultados, o Jornal Sporting publicou depoimentos dos dois directores. Diamantino Ribeiro congratulou-se pela vitória da sua modalidade, dizendo que os sócios tinham compreendido a sua mensagem, mas manifestou tristeza pela extinção do basquetebol. Edgar Vital declarou que tinha ficado provado que os sócios gostavam do basquetebol, e avançou a ideia de que poderia passar a modalidade semi-autónoma, ou seja, que se quase bastasse a si própria, com uma pequena contribuição do Clube. A Direcção do Clube não aceitou, a secção acabou, e o Basquetebol viria a renascer no Clube 17 anos depois, com formação e uma equipa sénior feminina, pela mão do mesmo Edgar Vital.

A 1 de Agosto de 1995, o Jornal Sporting anunciou secamente que a secção de Futebol Feminino também tinha sido extinta, dizendo que a Direcção tinha invocado dificuldades na disponibilidade de campos para os treinos. Era assim a quarta modalidade a acabar no arranque do Projecto Roquete. O Ténis de Mesa também esteve em risco, mas acabou por sobreviver, talvez por vir de 11 anos de hegemonia no panorama nacional.