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Esta página é sobre o atleta Carlos Lopes. Se procura o atleta paralimpico Carlos Lopes, consulte Carlos Manuel Conceição Lopes.
Dados de Carlos Lopes Clopes4.jpg Clopes3.jpg
Nome Carlos Alberto de Sousa Lopes
Nascimento 18 de Fevereiro de 1947
Naturalidade Vildemoinhos - Viseu - Portugal - 
Posição Atleta

Carlos Lopes nasceu em Vildemoinhos no seio de uma família humilde. Era o mais velho de sete irmãos e mal acabou a escola primária, teve de começar a trabalhar como servente de pedreiro, quando tinha apenas 10 anos de idade. Depois foi marçano e ajudante numa ourivesaria em Viseu, até ser aceite na serralharia onde o seu pai trabalhava. Tinha na altura 16 anos e os seus sonhos eram ser serralheiro e jogar futebol no clube da terra.

Mas o Sr. António Lopes achava que ele era muito franzino para o futebol e não o deixou ir jogar para o Lusitano. Talvez tenha sido a sua sorte porque assim acabou por se dedicar ao Atletismo, o que aconteceu um pouco por acaso, quando um grupo de rapazes da terra resolveram formar uma equipa da modalidade no Lusitano Futebol Clube, depois de uma correria noturna que tinha acontecido fortuitamente no regresso de um bailarico, com Carlos a ser o primeiro a chegar a Vildemoínhos.

Para se inscrever falsificou a assinatura do pai, não fosse ele achar que também não tinha cabedal para correr. Estreou-se na São Silvestre de Viseu onde foi 2º classificado. Duas semanas depois foi Campeão Regional de Juniores em Corta Mato e logo a seguir foi 3º classificado no Campeonato Nacional, sendo por isso seleccionado para representar Portugal no Crosse das Nações de 1966, que se disputou em Rabat.

Nessa prova a imprensa nacional apontava Anacleto Pinto como um dos favoritos às medalhas, mas o melhor atleta português foi Carlos Lopes que ficou no 25º lugar. No entanto com um pouco mais de experiência poderia ter feito melhor.

Corria o ano de 1966 quando um emissário do Sporting Clube de Portugal apareceu em Vildemoínhos para o trazer para Lisboa. Sportinguista desde sempre, ele que até gostava de dizer que era o Seminário nas futeboladas em que participava por brincadeira, não hesitou em partir à aventura, para se tornar no melhor atleta português de todos os tempos.

Um palmarés ímpar

A Medalha de Ouro

Ao serviço do Sporting foi 10 vezes Campeão Nacional de Corta-Mato, uma especialidade onde quando estava em forma era praticamente imbatível, e na Pista foi 5 vezes Campeão Portugal (2 nos 5000m, 2 nos 10000m e outra nos 3000m obstáculos), números estes menos impressionantes do que os do Crosse, mas que se explicam pelo facto de poucas vezes ter competido nos Campeonatos de Portugal.

Ajudou o Sporting a conquistar 7 Taças dos Campeões Europeus de Corta-Mato, competição que ganhou individualmente 3 vezes, entre muitos outros títulos nacionais e regionais que o Clube venceu com sua sempre importante participação, no Corta-Mato, na Pista e na Estrada.

Entre 1972 e 1976 melhorou 9 vezes o Recorde Nacional dos 5000m, fixando-o em 13,24,0m, retirando assim quase 30 segundos à anterior marca de Manuel de Oliveira; Entre 1971 e 1976 melhorou 7 vezes o Recorde Nacional dos 10000m, distância em que se viria a tornar Recordista da Europa, quando no dia 26 de Junho de 1982 ganhou os Bisllet Games em Oslo, com o tempo de 27,24,39m. Foi também Recordista Nacional dos 3000m em pista coberta com o tempo de 8,44,8m, integrou uma equipa do Sporting que bateu o Recorde Nacional da estafeta dos 4x1500m, e em 1975 bateu os Recordes Nacionais dos 15 e 20 Km e da hora, numa só prova.

Foi três vezes Campeão Mundial de Corta Mato e duas vezes vice-Campeão, sendo justamente considerado como um dos melhores atletas de sempre nesta dura variante do Atletismo, onde era praticamente o único atleta capaz de fazer frente ao domínio que começava a ser exercido pelos africanos.

Na Maratona foi Recordista da Europa, Recordista Mundial e Campeão Olímpico, sendo o primeiro português a conquistar uma Medalha de Ouro no maior evento desportivo do Mundo.

Antes já tinha conquistado uma Medalha de Prata nos 10000m dos Jogos Olímpicos de Montreal, que era a primeira da história do Atletismo português, e entre muitas outras corridas, ganhou ainda por duas vezes a clássica São Silvestre de São Paulo, no Brasil, que era considerada como a mais importante prova de estrada do mundo.

Os primeiros anos

Carlos Lopes no Crosse

Carlos Lopes ingressou no Sporting Clube de Portugal em Setembro de 1996, à sua espera tinha um emprego como serralheiro e os seus primeiros tempos em Lisboa não foram fáceis, chegou mesmo a pensar em regressar a casa, mas o orgulho e a vontade de vencer foram mais fortes e ficou. Mais tarde, depois de ter cumprido o serviço militar obrigatório, o Presidente Brás Medeiros arranjou-lhe um lugar como continuo no Diário Popular, que era um trabalho mais leve.

Estreou-se no Grande Prémio da Parede onde ficou em 2º lugar atrás de José Lourenço. Depois ainda nessa época, portou-se bem no Corta Mato onde voltou a ser 3º no Campeonato Nacional de Juniores. Ajudou a ganhar a Estafeta Cascais-Lisboa e deu os primeiros passos na Pista, chegando mesmo a estabelecer um novo Recorde Nacional dos 3000m em Pista Coberta.

Na época seguinte ganhou o Corta Mato dos Dez, participou nas vitórias do Sporting nos Campeonatos Regional e Nacional de Crosse e na Estafeta Cascais Lisboa, e obteve o seu primeiro grande título, ao sagrar-se Campeão de Portugal nos 5000m.

Em 1970 Carlos Lopes ganhou o seu segundo Campeonato de Portugal, desta vez nos 10000m, e deu inicio ao seu reinado no Corta Mato, conquistando o primeiro dos 5 títulos consecutivos de Campeão Nacional desta especialidade, que obteve até 1974, igualando assim um feito que até aí só Manuel Dias e Manuel Faria tinham conseguido.

Nesse período melhorou por 5 vezes o Recorde Nacional dos 5000m e fez o mesmo 3 vezes nos 10000m, tornando-se no primeiro português a percorrer esta distância abaixo dos 29 minutos, o que na altura já era um bom resultado.

Em 1972 estreou-se nas Olimpíadas, participando nos Jogos de Munique, onde se classificou em 9º lugar nas duas eliminatórias das provas dos 5.000m e 10.000m, depois de no ano anterior ter estado nos Campeonatos da Europa de Helsínquia, repetindo a experiência três anos depois em Roma, em ambos os casos sem resultados dignos de relevo.

Em 1973 teve a sua primeira experiência no Campeonato do Mundo de Corta Mato, classificando-se no 24º lugar, e no ano seguinte obteve pela segunda vez um 3º lugar na famosa Corrida de São Silvestre em São Paulo, depois de ser ter estreado em 1971 com um 15º lugar.

Um atleta de nível internacional

Carlos Lopes na Pista

Só em 1975 passou a treinar duas vezes por dia, numa altura em que o Atletismo português, impulsionado por Moniz Pereira, deu os seus primeiros passos para um semi-profissionalismo.

Nessa época Carlos Lopes ganhou a corrida dos 10000m da 1ª edição da Taça dos Campeões Europeus de Atletismo, melhorou os seus Recordes Nacionais dos 10000 e 5000m, no caso da légua duas vezes, a última das quais no Meeting de Zurique, onde ficou em 3º lugar, mostrando estar cada vez mais próximo dos melhores atletas do mundo, e ainda teria tempo para ser Campeão de Portugal dos 3000m obstáculos, numa prova onde tentava bater o Recorde Nacional do histórico Manuel de Oliveira, um objectivo que ficou inviabilizado quando sofreu uma queda na parte final da corrida, e para numa só prova bater os Recordes Nacionais dos 15 e 20 Km e da hora, igualando assim um feito protagonizado por Armando Aldegalega em 1964.

A 28 de Fevereiro de 1976 sagrou-se pela primeira vez Campeão do Mundo de Corta Mato. No mesmo ano, participou nos Jogos Olímpicos de Montreal no Canadá, ganhando a Medalha de Prata nos 10 mil metros, a primeira Medalha Olímpica do Atletismo português, numa prova em que foi derrotado pelo finlandês Lasse Viren, um atleta que mais tarde seria acusado de fazer transfusões de sangue para melhorar as suas prestações nas grandes provas.

Foram duas enormes proezas, mas não totalmente inesperadas. Lopes tinha começado a época a ganhar tudo o que havia para ganhar no Corta Mato, triunfando no Crosse Internacional de Chartres e no Crosse de Lazarte em San Sebastian, para depois recuperar o título de Campeão Nacional de Corta-Mato, que na ocasião era o seu sexto.

Na Pista os resultados de Carlos Lopes também foram brilhantes, começando por bater o Recorde Nacional dos 5000m, em Maio na Alemanha, tornando-se no primeiro português a percorrer a distância em menos de 13,30m, o que já era uma marca de nível internacional, para logo na semana seguinte participar como convidado num encontro entre as selecções da RFA e da URSS, onde fez a melhor marca do ano nos 10000m, com o tempo de 27,45,71m, que passou a ser a 8ª melhor marca de sempre naquela distância, constituindo uma melhoria de quase 45 segundos em relação ao anterior Recorde Nacional, tornando-se assim no primeiro português a correr os 10000m em menos de 28 minutos.

Em Junho melhorou o seu Recorde dos 5000m, percorrendo a distância em 13,24,0m e nos Jogos Olímpicos estabeleceu um novo Recorde Nacional dos 10000m, que viria a melhorar duas semanas depois em Estocolmo, fazendo o tempo de 27,42,65m, que era a 6ª melhor marca mundial de sempre e o melhor tempo do ano.

No ano seguinte voltou a estar em grande no Corta Mato, revalidando o seu título de Campeão Nacional e vencendo a 1ª edição do Crosse Internacional das Amendoeiras, isto depois de ajudar o Sporting Clube de Portugal a ganhar pela primeira vez a Taça do Campeões Europeus de Corta Mato, numa prova em que também foi o vencedor individualmente, e finalmente obteve o 2º lugar no Campeonato Mundial de Corta-Mato.

A maldição das lesões

Com 30 anos de idade Carlos Lopes tinha chegado a um nível nunca antes atingido por um atleta português, quando a sua carreira foi interrompida por uma grave lesão no tendão de Aquiles, que o forçou a uma paragem de vários meses.

Seguiram-se algumas tentativas de regresso e outras tantas recaídas, que se transformaram numa longa travessia no deserto, durante a qual foi dado como acabado para o Atletismo.

No entanto Carlos Lopes nunca desistiu. Sofreu em silêncio com algumas desfeitas que lhe fizeram, numa altura em que Fernando Mamede se assumia como a nova grande figura do Atletismo português, o que resultou em inevitáveis comparações que deram origem a uma certa rivalidade entre ambos, mas Lopes não baixou os braços, mesmo que por vezes se sentisse abandonado até Moniz Pereira que também se virara mais para Mamede.

Durante esse difícil período que se estendeu até ao ano de 1981, Carlos Lopes em 1978 ainda foi Campeão Nacional de Corta Mato pela 8ª vez e Campeão de Portugal nos 10000m, mas daí para a frente alternou paragens mais ou menos longas com regressos tímidos, na maior parte das ocasiões só para ajudar o Sporting nas competições por equipas, muitas vezes com algum sacrifício.

Foi assim que passou ao lado do Campeonato da Europa de 1978 e dos Jogos Olímpicos de 1980 e teve algumas participações menos conseguidas nos Mundiais de Corta Mato, desistindo em 1978 e 1981 e classificando-se no 26º lugar em 1980.

O milagre da ressurreição aconteceu por força das agulhas, num tratamento de acupunctura com o Mestre Koboyashi, um japonês radicado em Portugal, que o fez acreditar numa recuperação em que mais ninguém acreditava.

O regresso do velho senhor

Carlos Lopes na lama

As primeiras indicações de que a sua recuperação estava a caminho, aconteceram na época de 1981, quando fez 27,47,8m nos 10000m, uma marca muito próxima do seu melhor, na prova em que Fernando Mamede bateu o Recorde da Europa daquela distância. Seguiram-se novas vitórias nos 5000 e 10000m dos Campeonatos Nacionais e nos 10000m da Taça da Europa. Eram os primeiros sinais de que apesar dos seus 34 anos, ele ainda não tinha desistido.

A confirmação veio na temporada seguinte, com Carlos Lopes a ressurgir ao seu melhor nível, conseguindo mesmo superar-se, batendo os seus principais recordes pessoais. Nesta época Lopes começou por ganhar o Grande Prémio do Natal ainda em 1981 e em Janeiro venceu categoricamente o Crosse Memorial Muguerza em Espanha, com um novo Recorde da prova. Seguiram-se novas vitorias no Corta Mato, primeiro na Taça dos Campeões Europeus e depois nos Campeonatos Regional e Nacional, que neste último caso era o 9º título de Carlos Lopes, mais um feito ímpar deste grande atleta, que assim superava as 8 vitórias obtidas por Manuel Dias.

Um pequeno susto afastou Carlos Lopes do Campeonato Mundial de Corta Mato, mas afinal era apenas uma lesão insignificante, da qual recuperou rapidamente, arrancando para uma excelente época na Pista, onde depois de ganhar os 5000m da Taça dos Campeões Europeus de Atletismo, melhorou o seu recorde pessoal nessa distância, durante o Torneio Internacional de Lisboa, onde ficou em 2º lugar logo atrás de Fernando Mamede.

A 26 de Junho de 1982 durante os Bisllet Games em Oslo na Noruega, Carlos Lopes bateu o Recorde da Europa dos 10000m, com a marca de 27.24.39m, destronando o seu colega e rival Fernando Mamede que poucos dias depois viria a recuperar esse Recorde.

No final da época Carlos Lopes voltou a ser vitima das corridas muito tácticas, terminando no sempre ingrato 4º lugar na prova dos 10000m dos Campeonatos da Europa, depois de ter liderado quase toda a corrida, acabando por não resistir ao ataque dos atletas mais rápidos na última volta.

Em 1983 Carlos Lopes conseguiu finalmente repetir o feito de Manuel Faria, ao vencer a famosa Corrida de São Silvestre em São Paulo, algo que muitos atletas portugueses já andavam a tentar sem êxito à 25 anos.Dois anos depois repetiu a façanha, somando assim duas vitórias na maior clássica de estrada do mundo.

No Corta-Mato foi pela 2ª vez vice-Campeão Mundial, numa corrida verdadeiramente emocionante, disputada ao sprint por 4 atletas, com o etíope Debele Bekele a vencer por um peito mesmo em cima da meta. Em 1984 foi campeão do mundo de corta-mato e segundo na maratona de Roterdão, batendo o recorde europeu.

A 02 de Julho de 1984 em Estocolmo, na Suécia, após um enorme despique com Fernando Mamede seu companheiro de Clube e rival nas corridas, obteve a segunda melhor marca do mundo nos 10.000m. numa prova onde Mamede bateu o Recorde do Mundo.

O homem da Maratona

Carlos Lopes na chegada da Maratona Olímpica de Los Angeles

A 12 de Agosto desse ano, Lopes trouxe para Portugal a primeira medalha de ouro olímpica da história do País, ao vencer a maratona em Los Angeles com a marca de 2:09:21 horas - recorde Olímpico que perdurou até aos Jogos de Pequim 2008, onde foi batido por Samuel Kamau Wansiru, com o tempo de 2:06:32 horas. Ainda a 18 de Outubro, foi recebido pelo Presidente dos EUA, Ronald Reagan, na Casa Branca juntamente com o Presidente João Rocha.

A 24 de Março de 1985 foi, pela terceira vez, campeão do mundo de corta-mato e, a 20 de Abril do mesmo ano, venceu a maratona de Roterdão batendo o então recorde mundial, com 2:07:11 horas, sendo assim o primeiro atleta do mundo a baixar das 2 horas e 8 minutos.

Carlos Lopes terminou a carreira no Imortal de Albufeira, tendo corrido e ganho a última prova em que participou, a mês e meio de completar os 40 anos de idade.

Foi galardoado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante e com o Colar de Mérito Desportivo.

Carlos Lopes é sem dúvida uma das maiores figuras de sempre do atletismo mundial, do desporto português e do Sporting Clube de Portugal, com o qual continua a colaborar especialmente em eventos sociais, onde aparece como um dos grandes símbolos do Clube de que foi considerado Sócio de Mérito.


To-mane 20:49, 9 Julho 2008 (WEST)