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Concepção

O Estádio de Alvalade foi inaugurado em 10 de Junho de 1956 e inseriu-se numa onda de construção de novos recintos que só encontrou paralelo no início do século XXI, aquando da preparação do Euro, e que incluiu a edificação de novos estádios para os principais clubes do país (Sporting, Benfica, Porto e Belenenses).

Entre outros, Anselmo Fernandez, Carlos Góis Mota, Mário Themudo Barata e Manuel Vinhas, apreciam o projecto para o Estádio

O Estádio foi construído com grande rapidez, tendo as obras, executadas por um número de trabalhadores que chegou a atingir 1.400, durado pouco mais de um ano. Talvez tenha sido tanta rapidez que levou o futuro presidente da FPF Silva Resende, então jornalista da Bola, a escrever, no dia da inauguração, “vê-se e mal se acredita”.

Maquete do projecto como foi inicialmente concebido

O projecto foi assinado pelos Arquitectos António Augusto Sá da Costa e Anselmo Fernandez, este um dos maiores sportinguistas de todos os tempos. Basta recordar que foi atleta do clube durante dezassete anos, que não cobrou honorários pelo seu trabalho na elaboração do projecto e que foi o treinador da equipa que conquistou a Taça das Taças em 1964, cargo que também exerceu gratuitamente. A parte de engenharia foi projectada por Ruy José Gomes e a construção esteve a cargo da empresa Alves Ribeiro sob a direcção de obras de Mário Themudo Barata.

Subscrição para a construção

Curiosamente, o projecto inicial nunca foi concretizado. Estava previsto um estádio simétrico, com a bancada central poente a encontrar uma réplica exacta a nascente – duas centrais, com uma pala cada uma. No entanto, a bancada nascente nunca viria a ser construída, sendo a parte do Estádio que lhe estava destinada ocupada pelo peão e, a partir de 1983, pela Bancada Nova, que não era fiel aos planos originais.

Pormenores da construção

Muito do dinheiro necessário ao pagamento da construção do Estádio foi doado pelos sócios. Em 30 de Maio de 1954, mais ou menos por altura do início dos trabalhos, já se estimava que os sportinguistas tivessem contribuído com cerca de oito milhões de escudos, quantia assinalável para a época. Sob a liderança do Presidente Góis Mota, e da Comissão Central do Estádio liderada pelo Dr. Manuel Carvalho Brito das Vinhas, os sócios e adeptos mobilizaram-se e ficaram célebres as sessões de “picaretada”, nas quais os leões pagavam às vezes até vinte escudos pelo direito de ajudar na demolição do campo antecessor do Estádio José Alvalade.

Este estádio que foi a casa do Sporting durante quase 50 anos, tinha na Porta 10-A uma espécie de ex-libiris, onde se juntavam os adeptos e passavam todos os profissionais do Clube.

Inauguração

Momento da inauguração

A festa da inauguração foi memorável e grandiosa, à maneira da época. Estiveram presentes cerca de 60.780 espectadores, numa festa que envolveu um desfile de 1500 atletas do Clube, e que contou com a presença de representantes de 31 Federações e Associações Desportivas, 200 Clubes e 71 Filiais do Sporting Clube de Portugal, contemplando também um jogo em que o Sporting reforçado com elementos de outros clubes, perdeu por 2-3 com o Vasco da Gama.

Equipa do Sporting no jogo inaugural

Nesse jogo histórico, alinhámos da seguinte maneira: Carlos Gomes, Caldeira e Joaquim Pacheco; Fernando Cabrita (do Sporting da Covilhã), Falé (do Lusitano de Évora) e Juca; Hugo, Vasques, Miltinho, Mário Imbelloni (sem clube) e João Martins (o tal Martins que, em 1955, marcou o golo que tirou o título ao Belenenses para o dar ao Benfica, numa grande prova do desportivismo e lealdade que devem ser sempre a marca do Sporting). O primeiro golo foi marcado por Juca, na própria baliza, o primeiro golo do Sporting por Miltinho, que fez o 1-2.

Outro momento alto da festa foi a aparição de uma frota de Vespas, numa das quais se transportava terra vinda de Olímpia, de certa forma a pátria do desporto, terra que foi simbolicamente incorporada no Estádio, que, dotado de pista de Ciclismo, fora idealizado para acolher vários desportos, o que lhe dava um cariz verdadeiramente “olímpico”.

Momentos históricos

O primeiro título de campeão festejado no Estádio José Alvalade foi o de 1957/58. Uma equipa onde pontificavam os últimos dois violinos em actividade, Vasques e Travassos, derrotou o Caldas por 3-0 perante um Estádio cheio. A última festa do título em Alvalade, como todos se recordarão, foi a de 2001/02, mais uma vez com o Estádio cheio, para presenciar a vitória por 2-1 frente ao Beira-Mar obtida pelos já virtuais campeões (e não esquecer a mítica noite de Maio de 2000, quando dezenas de milhares invadiram Alvalade e ali ficaram até de madrugada para vitoriar os jogadores que tinham acabado com o grande jejum).

A pista de tartan foi inaugurada em 1977, altura em que desapareceu a de ciclismo, entretanto tornada famosa pela sua utilização na Volta a Portugal. A pista de atletismo acabou por se tornar num dos “ex-libris” do estádio, não só por fazer dele o maior estádio “olímpico” do país, mas por se tornar num símbolo da força da secção de atletismo do Sporting, orientada pelo “eterno” Professor Moniz Pereira e que, só nos últimos 20/30 anos, produziu e incentivou atletas do calibre de Carlos Lopes, Fernando Mamede, Domingos Castro, Naíde Gomes, Francis Obikwelu, etc. e deu tantas glórias a Portugal em Olimpíadas, Campeonatos do Mundo e Campeonatos da Europa.

A primeira Loja Verde

A Loja Verde foi inaugurada em 17 de Novembro de 1980. Durante muito tempo o "violino" Vasques podia ser visto na Loja, onde trabalhava. Mas olhando para aquele homem discreto e modesto, ninguém imaginaria que estava perante uma das maiores lendas do clube.

Em 1983, por acção da presidência de João Rocha, concretizou-se o fecho do Estádio, através da construção da chamada Bancada Nova, que substituiu o peão herdado do recinto anterior, e a instalação de uma nova e moderna pista de tartan, numa obra iniciada em Fevereiro de 1982.

O Estádio de Alvalade testemunhou muitas exibições notáveis do Sporting e grandes jogos de futebol. Destacam-se dois, que estabeleceram recordes que ainda hoje perduram. Os 16-1 ao Apoel Nicósia na Taça das Taças de 1963/64, maior goleada da história das competições europeias, em 13 de Novembro de 1963, jogo em que Mascarenhas marcou 6 golos, e os 21-0 ao Mindelense (na altura algumas equipas das colónias participavam na Taça de Portugal, vindo jogar à “metrópole” com todas as despesas pagas), maior goleada da história da prova, em 24 de Maio de 1971, com 8 golos de Peres.

É impossível evocar todos os jogos lendários que se disputaram no velho Alvalade sem ter que se escrever milhares de palavras, pois foram tantos, desde os 5-0 ao Manchester United de Charlton, Law e Best aos 7-1 ao célebre jogo com o Rangers, com o grande Vítor Damas a defender penaltis inutilmente, aos famosos 3-1 ao Benfica de 1981/82, com a agressão de Bento a Manuel Fernandes.

Finalmente, o Estádio também conheceu momentos de tragédia, tais como os que ocorreram em 7 de Maio de 1995, o dia em que morreram dois adeptos na queda do varandim, José e Paulo. Também eles ficarão, para sempre, ligados à história do Estádio José Alvalade.

A Catedral do Rock

O Estádio José Alvalade fica também inevitavelmente associado ao arranque dos grandes espectáculos musicais de massas em Portugal. Em 15 anos de megaconcertos passaram por Alvalade mais de um milhão e duzentas mil pessoas.

Um importante aspecto dos primeiros concertos no Estádio foi o facto de proporcionarem a realização de espectáculos com grandes produções, algo que não acontecia em Portugal, catalisando assim a evolução destes eventos por todo o país. Depois do espectáculo inaugural de Roberto Carlos, o ano de 1989 marcou o arranque em definitivo das superproduções que ficarão para sempre na memória dos milhares que assistiram.

Para história ficam momentos ímpares como o palavrão gritado a plenos pulmões por Adolfo Luxúria Canibal, vocalista dos Mão Morta, a propósito da crise social e da crise da Ponte 25 de Abril; o primeiro concerto em Portugal dos Rolling Stones; o espalhanço de Axl Rose, dos Guns 'n' Roses, aquando a entrada em cena, levando a que ficasse amuado durante longos minutos; ou o enorme palco de luz e som apresentado pelos Pink Floyd.

Com a demolição do Estádio José Alvalade, para muitos considerado como a Catedral do Rock, encerrou-se assim um dos mais importantes capítulos na história dos espectáculos musicais ao ar livre em Portugal.

Não são também de esquecer, no entanto, as consequências dos megaconcertos para a qualidade do relvado, que culminaram no famoso atoleiro em que se jogou uma partida da Champions contra o Mónaco.

Últimos dias

Pormenores da demolição do Estádio

A última época em que o Estádio foi usado, já com parte da Superior Sul demolida, foi 2002/03. A UEFA exige que os estádios em que se disputem jogos dos campeonatos da Europa tenham pelo menos um ano de uso, pelo que era necessário que a época 2003/04 já fosse disputada no novo Estádio.

O velho José Alvalade guardou alguns mistérios até ao fim, como por exemplo um velho balneário abandonado e emparedado, onde ainda foram encontrados alguns equipamentos em farrapos. Com a demolição findaram 47 anos de história e desapareceu para sempre o local onde muitos de nós aprendemos a amar o Sporting, numa altura em que ao lado se construía um novo recinto envolvido no Complexo Alvalade XXI e considerado um estádio de última geração ao nível do melhor que há no mundo..


--Pireza 19h30min de 8 de Outubro de 2008 (WEST)