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Depois da vitória no Crosse das Nações, Carlos Lopes virou-se para a época de Pista, tendo como principal objectivo os Jogos Olímpicos de Montreal.

O Prof. Moniz Pereira pusera a cabeça no cepo ao fazer pequenas exigências para a preparação da equipa de Atletismo, que alguns consideraram como excessivas, numa altura em que o País vivia na ressaca do 25 de Abril, pelo que era fundamental apresentar resultados, isto apesar de não terem sido prometidas Medalhas.

Em Maio Carlos Lopes foi à Alemanha, onde começou por bater o Recorde Nacional dos 5000m no Meeting de Colónia, tornando-se no primeiro português a percorrer a distância em menos de 13,30m, o que já era uma marca de nível internacional, para logo na semana seguinte participar como convidado num encontro entre as selecções da RFA e da URSS, onde fez a melhor marca do ano nos 10000m, com o tempo de 27,45,71m, que passou a ser a 8ª melhor marca de sempre naquela distância, constituindo uma melhoria de quase 45 segundos em relação ao anterior Recorde Nacional, tornando-se assim no primeiro português a correr os 10000m em menos de 28 minutos.

Em Junho Carlos Lopes melhorou o seu Recorde dos 5000m, percorrendo a distância em 13,24,0m, mas nos Jogos Olímpicos apostou nos 10000m, uma corrida mais longa onde teria maiores hipóteses de afastar a concorrência, para evitar uma ponta final ao sprint, onde não era muito forte.

Em Montreal Lopes venceu a sua eliminatória sem dificuldades e o Prof. Moniz Pereira assegurou que se a Final fosse directa ele ganharia uma Medalha, adiantando que a táctica para a corrida decisiva só poderia ser forçar o andamento até aos limites: "ou rebenta ele, ou rebentam os outros".

E de facto assim foi. Na Final disputada no dia 26 de Julho de 1976, Carlos Lopes impôs um ritmo forte, que o levou inclusivamente a melhorar o seu Recorde Nacional com o tempo de 27,45,17m, e só não conseguiu rebentar com o finlandês Lasse Viren, um policia dotado de uma rápida ponta final, e que era apenas o Campeão Olímpico em título dos 5000 e 10000 metros, feito que repetiu nos Jogos de Montreal, para desconsolo do nosso atleta, que depois de comandar toda a corrida se viu ultrapassado na recta final, ficando a menos de 5 segundos do vencedor.

Apesar da alegria que constituiu a conquista da primeira Medalha Olímpica do Atletismo português, ficou no ar a sensação de que teria sido possível chegar ao Ouro, principalmente devido às suspeitas que se levantaram em relação à possibilidade do "finlandês voador" recorrer a transfusões de sangue para melhorar as suas prestações, e o que é certo é que os resultados de Lasse Viren melhoravam substancialmente nos anos olímpicos.

No final Moniz Pereira voltou à carga, afirmando que aquela era a Medalha mais barata dos Jogos, enquanto Carlos Lopes exigia melhores condições de treino e um pouco mais de reconhecimento, pois afinal vivia apenas do seu ordenado no Banco, um pouco mais de 7 contos por mês.

O tempo daria razão a ambos, com melhores condições e um investimento maior, seria possível chegar ainda mais longe.

To-mane 10h37min de 14 de Julho de 2012 (WEST)