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Campeões por três segundos apenas

A época 1957/58 do Basquetebol leonino tinha começado muito bem, com o Sporting a ganhar o Campeonato de Lisboa de forma autoritária, sagrando-se campeão à 11ª jornada, ainda com três jogos por jogar. O cinco base era constituído por Abílio Ascenso, António Feu, Armando Garranha, Fernando Gomes Vaz e Hermínio Barreto, que estavam entre os melhores jogadores de Portugal e juntos constituíam uma temível máquina de jogar basquetebol.

Assim, o Sporting assumia, se não o favoritismo, pelo menos a vontade e a capacidade de recuperar o título máximo nacional ganho duas épocas antes. Ganhou com alguma facilidade a Zona Sul da 1ª fase, disputada em torneio entre 6 equipas a duas voltas, como vinha sendo habitual. Perdeu apenas um jogo, contra o Barreirense e por 19 pontos de diferença, apesar de ter ganho por 25 pontos na primeira volta. Em qualquer dos casos, o primeiro lugar não estava em dúvida visto os segundos classificados terem três derrotas.

A Fase Final foi jogada nos mesmos moldes: torneio entre 6 equipas a duas voltas. Um dos momentos determinantes do campeonato foi o jogo no Barreiro, um campo tradicionalmente muito difícil por os adeptos ficarem praticamente em cima do campo, pressionando fortemente a arbitragem. A partida manteve-se equilibrada até ao 50-50, mas aí Hermínio Barreto foi excluído por faltas, e a derrota sobreveio por números demasiado penalizadores: 80-66.

No entanto, o Sporting não voltou a perder até à 9ª jornada, enquanto que o Barreirense tinha perdido um jogo. Assim, uma vitória leonina colocaria a equipa em primeiro lugar. Com ambas as equipas a defender homem a homem, a desclassificação por faltas de Abílio Ascenso, o melhor marcador da equipa, e de Hermínio Barreto, colocou a vitória do Sporting em dúvida. Assim, com um resultado ao intervalo de 26-20, erros defensivos na segunda parte levaram o adversário a conseguir recuperar, chegando a estar em vantagem por 33-34. A “segunda linha” do Sporting que alinhou em recurso, não desmereceu, e o jogo acabou com uma vitória verde branca por 49-47.

O título nacional ficava assim adiado para a última jornada a 28 de Junho de 1958, contra a Académica, em Coimbra, outro terreno muito difícil, tal como o Porto, pelos mesmos motivos que o do Barreiro. Um empate, ainda permitido nesta altura, bastava para o Sporting se sagrar campeão nacional. A equipa foi encontrar um ambiente muito adverso, chegando a haver no fim do jogo agressões aos árbitros por parte do público afecto à Académica. O jogo em si foi muito difícil, com o Sporting a estar a perder praticamente durante todo o jogo. No entanto, a vitória esteve sempre ao alcance da equipa, que nunca desistiu. A Académica chegou a estar a ganhar por 5 pontos, a vantagem máxima que alcançou, mas nunca se conseguiu distanciar, e o Sporting aproximava-se sempre. A três minutos do fim, o Sporting perdia 40-36, mas conseguiu reduzir para 42-40. E foi nessa altura que Abílio Ascenso friamente transformou dois lances livres que deram o empate a 42-42 a 3 segundos do fim, e com ele o campeonato à turma de verde e branco.

Mas o destino, a má sorte, o talento dos adversários, ou até a falta de precisão do cronometrista como se disse na altura, assim não o quiseram. Em três segundos, o jogador estudantil Wilson pegou na bola, correu os 25 metros até à tabela leonina, e lançou, encestando. E com esse cesto, o campeonato ficou entregue de novo ao Barreirense.

O capitão da equipa, António Feu, relatou depois assim a história tal como vivida pelos jogadores:

Nos momentos finais do Académica-Sporting, no Campo de Santa Cruz, em Coimbra, recinto ao ar livre, com piso de cimento e repleto de público, onde o acesso dos jogadores fora feito por enorme e estreita escadaria, com os consequentes "cumprimentos" dos adeptos mais exaltados da Académica, alguns professores da Academia, a nossa equipa perdia por dois pontos. O Abílio Ascenso beneficiou de dois lances-livres. Concretizou o primeiro e, na minha qualidade de capitão de equipa, solicitei ao árbitro, competentíssimo juiz do Porto, a consulta à "Mesa", de "Tempo e Resultado"! Fui informado pela mesma, que perdíamos por um ponto e "FALTAVAM 3 SEGUNDOS PARA O FIM DO ENCONTRO"! Imediatamente, esclareci o Abílio da situação e ficámos cientes que com a segunda concretização seríamos campeões! Só que a "Mesa", após o empate que nos daria a vitória no "Campeonato Nacional", "prolongou" inacreditavelmente o tempo de jogo - cerca de dois minutos - até o Wilson marcar um cesto para a Académica, antes de fazer "falta atacante" não assinalada, furando pela linha de fundo e empurrando um defesa do Sporting. Salvo erro o Fonte Santa. Pois mesmo perdendo o Sporting, com vitória do Barreirense e não da Académica, no Campeonato Nacional, fomos injuriados e agredidos ao subir a correr a famigerada escadaria em direcção ao Balneário! Quanto ao árbitro do Porto, foi fortemente sovado, tendo sido empurrado para o limitado espaço onde nos encontrávamos, a chorar, com a camisa rasgada e sangue no rosto! De tal maneira, que o Capitão Andrade e Silva, dirigente do Sporting, não o reconhecendo, até perguntou: Mas quem é este gajo? Olha é o árbitro!!!!