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1-0 por Ben David

Atlético 3 - Sporting 1

Ficha do Jogo

O Sporting tinha ganho dois tri-campeonatos nos últimos 7 anos, conquistando duas monumentais Taças O Século, mas agora tinha a possibilidade de realizar o feito até aí inédito de somar 4 títulos consecutivos de Campeão Nacional de Futebol, algo que naturalmente não agradava aos rivais dos Leões, pelo que a época de 1953/54 ficou marcada por uma autêntica campanha de todos contra o Sporting.

O inicio da temporada foi muito complicado para os Leões que foram assolados por uma verdadeira onda de lesões, ao que se somaram vários castigos. Assim a equipa perdeu no Porto e nas Selésias e empatou na Covilhã, mas apesar de tudo isto à 8ª jornada estava a apenas 1 ponto do Benfica e do Belenenses que lideravam a tabela classificativa.

Na ronda seguinte o Sporting deslocou-se à Tapadinha para defrontar o Atlético num jogo sempre complicado, que se disputou no dia 13 de Dezembro de 1953. Albano, Caldeira, João Martins e Iosif Fabian estavam lesionados, enquanto Travassos cumpria o último dos 4 jogos de castigo com que fora punido, tal como Janos Hrotko que fora expulso na Covilhã. Sendo assim João Faustino manteve-se na defesa, João Galaz foi adaptado ao lugar de avançado centro e Aparício jogou na esquerda do ataque, numa formação cheia de remendos ainda à procura das melhores soluções para tantas ausências.

O Atlético adiantou-se no marcador logo aos 7m num belo pontapé de Ben David, que no entanto estava fora-de-jogo, mas que perante a gentileza do fiscal de linha não deu hipóteses de defesa a Carlos Gomes. O Sporting reagiu de pronto e começou a carregar sobre a baliza de Ernesto, mas foi então que se iniciou o festival do sr. Clemente Henriques um árbitro do Porto, que depois de interromper, sem que ninguém percebesse porquê, duas jogadas em que os avançados leoninos se encontravam em excelente posição para marcar, fez vista grossa a um corte com a mão de Gaspar em plena área do Atlético. Pouco depois Martinho teve uma entrada violenta sobre Vicente Camilo que ficou caído no terreno sem que o árbitro interviesse, seguindo-se um choque entre Valente Marques e Aparício, com os dois jogadores a embrulharem-se no chão, resultando daí a inexplicável expulsão do avançado do Sporting.

Ainda faltavam mais de 10 minutos para o termo da 1ª parte e como era inevitável os ânimos aqueceram dentro e fora do campo, onde choveram almofadas arremessadas pelos adeptos leoninos visivelmente revoltados com uma arbitragem vergonhosa, e antes do intervalo ainda houve tempo para mais um penálti perdoado ao Atlético, quando Valente Marques jogou a bola com a mão dentro da sua área.

A segunda parte quase começou como a primeira, quando Ben David falhou por pouco aquele que poderia ter sido o segundo tento do Atlético, para logo a seguir o fiscal de linha anular um golo a Castiglia que pareceu estar em posição regular, mas pouco depois o avançado argentino fez o 2-0 a passe de Martinho.

O Sporting continuou a lutar jogando agora com uma linha de quatro avançados, com João Galaz a descair para a esquerda. Vasques teve duas excelentes oportunidades para marcar, mas falhou ambas. O Atlético aproveitou o adiantamento dos Leões e chegou ao 3-0 por intermédio de Ben David, lançado no contra ataque por um longo pontapé do guardião Ernesto, quando já iam decorridos 76m. E pronto, o jogo estava resolvido, mas ainda houve tempo para Vasques reduzir a desvantagem no marcador, correspondendo da melhor forma a um centro atrasado de João Galaz.

No final do jogo os adeptos e jogadores do Sporting foram brindados com lenços brancos que festejavam o adeus à renovação do titulo pela parte dos Leões. Curiosamente no final do jogo da 2ª volta que o Sporting ganhou por 7-0, ficando à beira da conquista do tetra, surgiu um lençol branco nas bancadas do Estádio José Alvalade, uma graça de quem não se tinha esquecido dos lenços brancos da 1ª mão, mas que a Direção do Clube criticou por considerar que os adversários mereciam o mesmo respeito que o Sporting exigia deles.

Com esta derrota em Alcântara o Sporting desceu para o 5º lugar da classificação a 3 pontos do líder, o Belenenses, mas seria quase três meses depois numa altura em que os Leões já iam na frente do campeonato, que a polémica voltaria a estalar, quando foi aplicado um castigo a Góis Mota por este ter interpelado o árbitro no intervalo do polémico jogo da Tapadinha e de se ter exaltado depois do fiscal de linha o ter acusado de coação.

O Presidente do Sporting colocou então o seu lugar à disposição do Conselho Geral, que se reuniu extraordinariamente no dia 4 de Março de 1954, para analisar a situação, enquanto os sócios se apinhavam na Sede do Clube para manifestarem o seu apoio incondicional a Góis Mota, que estava a ser alvo de uma campanha difamatória. Nunca o ginásio do Sporting tinha tido uma enchente tão grande desde que o Clube se instalara na Rua do Passadiço, naquela que foi uma demonstração de grande unidade sportinguista contra os ataques que o Clube continuava a sofrer perante as suas sucessivas vitórias, mas a caminhada rumo ao tetra já era imparável.

Nesta altura os adeptos dos rivais do Sporting, principalmente os do Porto, mas também os do Benfica, alimentavam a teoria de que as crónicas vitórias dos Leões resultavam do facto do Clube ter pessoas próximas nos lugares chave do futebol português e foi na base do "quem conta um conto acrescenta um ponto" que anos mais tarde este jogo da Tapadinha passou a ser falaciosamente descrito como aquele em que um Presidente do Sporting que era da PIDE, tinha invadido a cabine do árbitro de arma em punho, no intervalo de um jogo em que o Atlético estava a ganhar e que assim acabaria por perder graças a essa intimidatória intervenção. Muitas mentiras mil vezes repetidas, que nem por isso se transformaram em verdades.

To-mane (discussão) 17h14min de 8 de novembro de 2017 (WET)