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No final da terceira década do século XX, um dos assuntos na ordem do dia no futebol português, era o "profissionalismo encapotado" ou o "falso amadorismo", que era praticado em vários clubes, que já compensavam financeiramente os seus melhores jogadores.

Nessa altura no Sporting defendia-se intransigentemente a pureza do amadorismo, ainda mais vivendo Clube um período de grandes dificuldades financeiras e, continuando por resolver a questão das instalações desportivas.

Em 1928 constou que Jorge Vieira, que era o Capitão Geral da secção do Futebol, Capitão da equipa e um jogador histórico do Clube, teria tentado convencer o novo Presidente Joaquim Oliveira Duarte a ser mais flexível na questão das compensações monetárias aos jogadores, que já não se contentavam com pequenos almoços e lanches, antes e depois dos jogos, uma atitude que não foi bem recebida pela Direcção do Sporting.

O que é certo é que com 30 anos de idade e acabado de representar Portugal nos Jogos Olímpicos, Jorge Vieira decidiu abandonar o Futebol, alegando que por motivos da sua vida particular, já não se podia preparar convenientemente, tendo então solicitado que o Clube disponibilizasse a sua equipa principal, para a realização de um jogo de despedida cuja receita reverteria a seu favor, algo que a Direcção começou por considerar imoral e perigoso, por poder abrir um precedente.

No entanto as conversações prosseguiram e depois da Direcção propor que 25% da receita desse jogo fosse para ajudar os jogadores que estavam doentes e outros 25% para ajudar a viúva de Amadeu Cruz, algo que Jorge Vieira recusou por já estar previsto um jogo para esse efeito, chegou-se a um entendimento para que um terço da receita do jogo ficasse para as ajudas aos jogadores doentes e outras despesas, apontando-se Dezembro como o mês para a realização do evento.

Entretanto a equipa de Futebol ia de mal a pior e sucederam-se os apelos dos adeptos para que Jorge Vieira regressasse à actividade, tendo o jogador resolvido colocar-se à disposição do Sporting, pelo menos até à data do seu jogo de despedida. Inicialmente a Direcção alegou que essa situação poderia causar algum incómodo entre os jogadores da 1ª categoria, mas acabou por aceitar e, em Dezembro de 1928 Jorge Vieira voltou a jogar pelo Sporting, no entanto apresentou-se em má forma, contribuindo para mais uma derrota da equipa.

Na semana seguinte a equipa principal do Sporting deslocou-se a Santarém e Jorge Vieira não foi convidado, nem tido nem achado, pois o treinador Charles Bell entendeu que ele necessitava de treinos adicionais para melhorar a sua forma. Sentindo-se ofendido Jorge Vieira escreveu uma carta à Direcção num tom áspero, que obteve como resposta a suspensão dos seus direitos de sócio até à realização da próxima Assembleia Geral, por se considerar a referida missiva desrespeitosa para com os dirigentes.

Figura de enorme prestigio entre os sócios do Sporting, Jorge Vieira foi alvo de uma onda de solidariedade que levou à convocação imediata de uma Assembleia Geral extraordinária para se discutir o seu caso. Nessa reunião magna que se realizou no dia 2 de Fevereiro de 1929, Jorge Vieira e o Presidente Joaquim Oliveira Duarte travaram-se de razões, verificando-se que os mais de 300 sócios presentes, estavam maioritariamente do lado do jogador, o que levou à demissão da Direcção, alegando não ter condições para trabalhar num ambiente tão atrabiliário.

Nessa altura a Assembleia Geral foi interrompida, devido ao adiantado da hora e à agitação envolvente, ficando por agendar a sua continuação, para concluir a "Questão Jorge Vieira" com a votação das moções propostas e proceder à eleição de uma nova Direcção.

Assim no dia 22 de Fevereiro voltaram a reunir-se cerca de 300 sócios do Sporting Clube de Portugal, numa assembleia que na ausência do demissionário Ernesto Navarro, seria dirigida pelo Engº Rebelo da Silva.

Nesta reunião seria recusada uma proposta conciliadora de José Serrano, sendo levada a votação e aprovada com 144 votos a favor, 130 contra e 5 abstenções, a moção que elogiava as qualidades de carácter de Jorge Vieira e que declarava sem efeito os castigos que lhe tinham sido aplicados pela Direcção demissionária.

Quanto à eleição de um novo elenco directivo, questões formais impediram o avanço desse processo, ficando assim e de acordo com os Estatutos, o Conselho Fiscal incumbido de gerir o Clube até à realização de uma nova Assembleia Geral eleitoral, uma vez que a Direcção anterior apenas se disponibilizara para se manter em funções até à conclusão da Assembleia Geral em que se demitira.

Jorge Vieira voltaria à actividade na temporada seguinte e, ainda jogaria na equipa principal do Sporting mais três épocas.

To-mane 20h04min de 25 de Setembro de 2014 (WEST)