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A Gerência 1953
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No dia 23 de Fevereiro de 1954 a Direcção de Góis Mota foi reeleita já com uma nova configuração, tomando posse a 23 de Março com a seguinte constituição:

Cargo Nome Observações
Presidente Carlos Cecílio Góis Mota
Vice Presidente para as Relações Externas Francisco do Cazal Ribeiro
Vice Presidente para as Actividades Desportivas José Borges de Albuquerque Calheiros
Vice Presidente para as Actividades Administrativas José de Abreu Theriaga
Director-Secretário Artur Luís Ferreira da Cunha Rosa
Director-Tesoureiro Francisco Gonçalves Franco
Director-Contabilidade Artur de Almeida Leandro
Director das Actividades Desportivas Eduardo de Oliveira Martins
Director das Actividades Desportivas Guilherme Correia César
Director das Instalações Desportivas Manuel da Silva Júnior
Director das Instalações Sociais Mário José da Silva Garcia
Suplente Carlos Queiroga Tavares
Suplente António de Melo Duarte Silva
A maqueta do Estádio
O Presidente do Benfica discursa na tomada de posse da Direção do Sporting
O Grande Festival do Sporting
A festa do Tetra
Verde no Jornal
Góis Mota felicita o Benfica pelos seus 50 anos
O Sporting em África
Os troféus ganhos em África
A festa do ultimo jogo oficial no Estádio do Lumiar
A representação do Sporting na inauguração do Estádio do Benfica
As picaretas para arrematação
O início simbólico da demolição do Estádio do Lumiar

No final do ano anterior Góis Mota tinha manifestado a sua intenção de abandonar a Presidência do Sporting Clube de Portugal, no que fora secundado por Palma Carlos e Carlos Farinha que chegaram mesmo a apresentar os pedidos de demissão dos cargos que ocupavam, mas o Conselho Geral conseguiu convencer os três Carlos a continuarem a conduzir os destinos do Clube, numa altura em que estavam em curso projetos fundamentais para o futuro do mesmo.

Nesta Gerência Góis Mota introduziu significativas alterações na orgânica da sua Direção, que passou a ter onze membros efetivos, três dos quais como vice presidentes, com pelouros claramente definidos, tal como todos os restantes Diretores, uma situação resultante de uma alteração estatutária aprovada na Assembleia Geral do dia 12 de Fevereiro de 1954, precisamente 11 dias antes da data da Assembleia Geral Eleitoral.

No dia 4 de Março realizou-se uma reunião extraordinária do Conselho Geral devido a Góis Mota ter colocado à disposição o seu lugar Presidente do Sporting Clube de Portugal, na sequência do castigo de que tinha sido alvo da parte da FPF, em virtude de ter invadido a cabine do arbitro no intervalo do jogo que o Sporting perdera na Tapadinha no final do ano anterior, depois de uma arbitragem vergonhosa de Clemente Henriques, que por sua vez também fora suspenso pela Comissão Central de Árbitros. Nesse dia os sócios apinharam-se na Sede do Clube para manifestarem o seu apoio incondicional a Góis Mota, que estava a ser alvo de uma campanha difamatória. Nunca o ginásio do Clube tinha tido uma enchente tão grande desde que o Sporting se instalara na Rua do Passadiço, naquela que foi uma demonstração de grande unidade sportinguista contra os ataques que continuavam a ser infligidos ao Clube.

Nessa altura o Capitão da equipa principal de Futebol, Manuel Passos, em nome de todo o grupo de trabalho, ofereceu a Góis Mota um camarote no novo estádio, numa manifestação de solidariedade para com o Presidente do Sporting, e que era simultaneamente uma comparticipação na campanha a favor da construção da nova casa dos Leões.

A cerimonia de tomada de posse da nova Direção foi um momento de grande exaltação da grandeza do Sporting Clube de Portugal, tendo nela marcado presença os Presidentes do Benfica, Belenenses, Atlético, Oriental e Lusitano de Évora e representantes do FC Porto e do Sporting Clube de Lourenço Marques. Na altura Joaquim Bogalho deu os parabéns antecipados ao Sporting pela conquista de mais um Campeonato de Futebol e agradeceu o facto do Presidente leonino ter proposto a atribuição ao Benfica da Medalha de Ouro da Câmara Municipal de Lisboa, afirmando que o Sporting também era merecedor da mesma distinção. Serafim Silveira agradeceu o facto de Góis Mota ter proposto o Lusitano Ginásio Clube para Sócio Honorário do Sporting Clube de Portugal e Damas Mora que confessou ser também sportinguista, agradeceu a cedência a título gracioso do Lumiar A para que o Oriental pudesse lá fazer os seus jogos enquanto o seu campo não estava pronto, informando ainda que na última reunião da sua Direção tinha sido aprovado por unanimidade considerar o Sporting Clube de Portugal Sócio de Mérito do Clube Oriental de Lisboa e atribuir-lhe uma Medalha de Ouro. Já Armando Oliveira desafiou o Sporting a deslocar-se às províncias ultramarinas, para assim verificar o trabalho de engrandecimento do ideal sportinguista por lá feito, um repto que foi bem acolhido pela Direção leonina.

Nesta altura o estádio deixara de ser um sonho, para passar a ser o objetivo prioritário, e nesta Gerência foi criada a Comissão Central do Estádio do Sporting, presidida por Manuel Carvalho Brito das Vinhas, que logo na hora do arranque informou já ter reunido 1140 contos na venda de lugares cativos. Por sua vez Góis Mota anunciou que as obras arrancariam depois do último jogo da época, com o objetivo de estarem concluídas a tempo de se fazer a inauguração no dia 1 de Julho de 1956, altura em que se comemoravam as Bodas de Ouro do Clube.

A viabilização financeira da obra estimada em cerca de 25 mil contos, contava com o apoio de 3 mil contos do Governo; com a venda de lugares cativos e camarotes que apontava para uma receita de cerca de 7 mil contos; com a campanha de angariação de sócios que tinha como objetivo chegar aos 20 mil, sendo que a quotização dos sócios efetivos acima do numero de 10 mil reverteria para o estádio, havendo a referir que no final de 1953 estes sócios eram 7287; com o saldo da campanha dos Lagartos que em parte já tinha sido utilizado para o pagamento dos projetos; com organizações várias a levar a cabo pela Comissão Central do Estádio, que tinha como lema "cada um dê o que pode e se pode torne a dar".

A 1ª fase da obra orçada em 15 mil contos, previa a construção de uma bancada central e de duas bancadas nos topos, aproveitando-se o peão existente que só numa fase posterior iria ser substituído por uma bancada simétrica à outra central, apontando-se para uma lotação que podia chegar aos 60000 espetadores, mas com este projeto falava-se pela primeira vez da Cidade Desportiva do Sporting, que incluía não apenas um Estádio Olímpico único na Península Ibérica, com forma oval, cobertura em toda a sua periferia, pistas para Atletismo e Ciclismo, iluminação para festivais noturnos, escoamento fácil do público, dois elevadores para acesso aos camarotes e tribuna e instalações para os atletas e serviços vários, mas também previa a construção posterior nas redondezas de mais dois campos de futebol, entre vários recintos para as outras modalidades e um pavilhão coberto.

O Sporting vivia o momento mais alto da sua história e este foi um ano marcado por grandes acontecimentos festivos. Assim no dia 29 de Abril realizou-se mais uma vez no Pavilhão dos Desportos o Grande Festival do Sporting, que foi abrilhantado pela participação do Benfica. A festa começou com um desfile das 18 secções que o Sporting mantinha em atividade, seguido de várias atuações desportivas onde estiveram em ação a patinadora Maria Antónia de Vasconcelos e as classes de Ginástica do Clube que nesta altura tinham 570 alunos, seguindo-se a novidade da realização de provas de Atletismo em recinto fechado, onde esteve em destaque o excelente atleta benfiquista Matos Fernandes, isto para além dos já habituais jogos de Andebol de 7 e de Futebol de Salão em que o Sporting defrontou o Benfica.

Poucos dias depois o Sporting festejou no Estádio José Alvalade a conquista do seu 9º Campeonato Nacional, que era simultaneamente o primeiro tetra-campeonato da história do futebol português. O programa teve um colorido ímpar com influências trazidas do Brasil, numa festa nunca antes vista em Portugal, que apresentou como novidades o desfile da Banda da Carris que entoou o Hino do Sporting e a imposição de faixas de Campeão aos jogadores que desfilaram em carros descapotáveis, no meio de uma multidão que não se conteve nas bancadas, invadindo o campo para gloriar os seus Campeões. Assim os dois jogos de Futebol em que os Aspirantes do Sporting golearam o Mirantense por 10-1 e a 1ª categoria derrotou o Vitória de Guimarães por 5-0, passaram para um plano secundário.

No final do mês de Maio realizou-se um festival no Campo do Passadiço onde foram homenageados os atletas Manuel Faria e Xara Brasil que tinham acabado de estabelecer novos recordes nacionais e a equipa de Aspirantes que tinha ganho a Taça Ribeiro Ferreira, com o programa a ser abrilhantado pela secção de Ginástica e por uma exibição de Voleibol feminino, ao mesmo tempo que era apresentado o Badminton, uma modalidade que deu os primeiros passos no Sporting neste ano.

No dia 11 de Maio realizou-se uma Assembleia geral extraordinária onde foi aprovada a isenção de joia para os novos sócios que se inscrevessem até que se atingisse o número de 20000 na categoria de efetivos, que passava a ser o limite permitido pelos Estatutos, que anteriormente estava fixado em 15000. Foi também autorizada a cativação de mais 50 camarotes do novo Estádio, pois os 50 inicialmente colocados à disposição dos sócios já tinham esgotado. Nessa ocasião foi anunciado que a última prestação do empréstimo para a compra da Sede já tinha sido liquidada, pelo que o edifício da Rua do Passadiço já era efetivamente propriedade do Clube, tendo sido nessa altura colocadas na sala de visitas as fotografias dos Presidentes da Direção do Sporting Clube de Portugal desde a data da sua fundação.

Foi também em Maio que Arnaldo Adler assumiu a direção do Jornal do Sporting, que passou de 6 para 8 páginas, sendo introduzida a cor verde, num ano em que pela primeira vez esta publicação foi lucrativa, com um saldo positivo de 8254$ para uma receita total que ultrapassou os 333 contos.

Um mês depois a equipa de Futebol do Sporting viria a conquistar a sua 5ª Taça de Portugal, conseguindo assim a sua 3ª "dobradinha", seguindo de imediato em digressão para África, com paragens em Moçambique, Angola, África do Sul e Congo. A comitiva leonina foi recebida nas colónias portuguesas de uma forma verdadeiramente apoteótica e respondeu com exibições condizentes ao enorme prestígio que desfrutava, obtendo 11 vitórias e 1 empate nos 12 jogos disputados. De regresso a Lisboa o Sporting organizou na sua sede uma muito bem sucedida exposição dos inúmeros troféus conquistados na sua viagem por terras africanas.

De resto em termos desportivos este terá sido até aí, o melhor ano de sempre na história do Sporting Clube de Portugal, que para além de uma época de ouro no Futebol, sagrou-se pela primeira vez Campeão Nacional em Voleibol quebrando a longa hegemonia do Técnico e em Basquetebol, onde também obteve mais 3 títulos regionais. Para além disso no Andebol de 11 o Sporting conquistou todos os campeonatos regionais em disputa e o Atletismo e o Ciclismo também continuaram a somar títulos.

No desporto feminino o Sporting continuava a ser pioneiro e nesta altura preparava-se a abertura às senhoras de mais uma modalidade, neste caso o Basquetebol, que assim se iria juntar a Atletismo, Ginástica, Ténis, Voleibol, Ténis de Mesa e Natação.

No dia 19 de Setembro disputou-se o último jogo oficial no Estádio do Lumiar, abrilhantado pela entrega dos troféus ganhos na temporada anterior e antecedido por algumas provas de Atletismo e por um jogo entre duas equipas de velhas guardas do Sporting, em mais uma grande festa verde branca. No entanto as obras propriamente ditas só começariam no ano seguinte pois a projeto só seria aprovado no dia 9 de Dezembro de 1954, sendo então aberto o concurso para a adjudicação da grande obra.

No dia 1 de Janeiro de 1955 realizou-se a festa de despedida do velho estádio do Sporting, inicialmente conhecido como Stadium de Lisboa e mais tarde denominado Estádio do Lumiar, antes de adotar o nome do seu criador. Do programa constava um jogo de Andebol de 11 entre o Sporting e o Oriental e um desafio de Futebol frente ao Atlético, que teve como aliciante a estreia do avançado congolês Mokuna também conhecido como o "fura-redes". O evento terminou com a arrematação de picaretas para que fossem os próprios sócios a iniciar a demolição do velhinho Estádio José Alvalade. A primeira picareta foi licitada por 1100$ e oferecida ao Presidente Góis Mota que simbolicamente deferiu os primeiros golpes nas bancadas que tinham testemunhado alguns do momentos mais altos da história do Clube.

Em termos financeiros esta gerência deu um lucro cerca de 1065 contos, um valor recorde na história dos clubes portugueses, numa altura em que se estimava que o passivo do Clube andasse à volta dos 15400 contos. As maiores receitas derivavam da quotização que atingiu os 2474 contos, numa altura em que o Sporting Clube de Portugal tinha 17784 sócios, depois de um ano em que se registaram 5739 novas filiações.

O Futebol deu um lucro de cerca de 42 contos, resultantes de receitas no valor de 2217 contos e de despesas de 2175 contos, sendo juntamente com o Ténis e o Motorismo as únicas secções com saldo positivo. O Atletismo com 169 contos e o Ciclismo com 151 contos continuavam a ser as modalidades amadoras mais dispendiosas, mas o Andebol e o Basquetebol também já se aproximavam da centena de contos, sendo que no total a atividade desportiva do Sporting atingia um custo de 2873 contos, gerando 2401 contos de receitas, o que significava um saldo negativo de cerca de 472 contos. Há ainda a referir que o Clube despendia 366 contos nas remunerações dos seus técnicos, sendo que a fatia mais grossa ia naturalmente para o Futebol que atingia os 266 contos, seguido à distância pela Ginástica com 44 contos e pelo Atletismo com 25 contos.

As atividades recreativas deram um lucro que ultrapassou os 73 contos num ano em que foi introduzida a novidade das sessões de cinema ao ar livre. As despesas gerais atingiram os 767 contos e o custo da gestão do campo atlético ultrapassou os 405 contos. A conta do posto médico atingiu os 111 contos, numa altura em que o Sporting já dava grande importância a este departamento fundamental na prevenção e recuperação de lesões dos seus atletas, sendo que para o efeito foi criado um Conselho Médico servido por um grupo de ilustres sportinguistas.

Há ainda a referir as excelentes relações com a Direção do Benfica, que já se verificavam há vários anos, mas que nesta altura atingiram momentos altos em termos de cordialidade, respeito e até amizade entre os dirigentes, numa fase em que estavam em cima da mesa assuntos de interesse comum, como os apoios governamentais à construção dos novos estádios e a carga excessiva de impostos e outras comparticipações que incidiam sobre as receitas dos jogos de Futebol.

Nesta altura o Sporting tinha 68 Filiais e 11 Delegações.

To-mane 23h32min de 27 de Outubro de 2011 (WEST)