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A Gerência 1947

No dia 19 de Janeiro de 1946 foi eleita uma nova Direcção, que tomou posse no dia 8 de Fevereiro, com a seguinte constituição:

Cargo Nome Observações
Presidente António José Ribeiro Ferreira
Vice Presidente Carlos Cecílio Góis Mota
Tesoureiro João Melo de Carvalho
Secretário Geral António Romana Garcia Branco
Secretário Adjunto Mário Ferreira da Cunha Rosa
Vogal Efectivo Francisco Gonçalves Franco
Vogal Efectivo José Manuel Martins
Vogal Suplente Guilherme Correia César
Vogal Suplente César Pedrosa Vitorino
Ribeiro Ferreira discursa na sua tomada de posse

Sousa Martinho e Palma Carlos chegaram a ser apontados como os prováveis sucessores de Barreira de Campos na Presidência do Sporting Clube de Portugal, mas acabou por ser Ribeiro Ferreira a liderar uma lista de consenso, ficando os outros putativos candidatos com as presidências do Conselho Fiscal e da Assembleia Geral.

Esta gerência marcou o inicio de um ciclo que ficou conhecido como "os anos de ouro", durante os quais o Sporting dominou de uma forma esmagadora o Futebol português, uma situação da qual não pode ser dissociada a contratação de Cândido de Oliveira, que em Abril de 1946 passou a ser o Supervisor Técnico do Futebol leonino, e que apesar de ter pegado na equipa já numa fase adiantada da época, conseguiu logo no primeiro ano ganhar a Taça de Portugal.

Era apenas a primeira de muitas vitórias, algumas delas alicerçadas na célebre linha avançada que ficou conhecida como os Cinco Violinos, que também pode ser considerada uma obra de Cândido de Oliveira. De resto foi ainda nesta altura que o Sporting assegurou o concurso de Vasques e Travassos, que completaram esse magnifico quinteto, do qual também faziam parte Peyroteo, Jesus Correia e Albano.

É caso para dizer que logo na sua primeira Gerência, que terminou em 20 de Janeiro de 1947, Ribeiro Ferreira acertou em cheio no que diz respeito ao Futebol, que ainda nesse período ganhou os Campeonatos Regional e Nacional de Juniores e mais um Campeonato de Lisboa na categoria de honra, este já sob o comando do treinador inglês Robert Kelly, que foi contratado em Agosto. A partir daí foi sempre a somar.

Mas o nome do vice presidente Góis Mota também não pode ser esquecido, pela proximidade e dedicação que sempre teve para com a principal secção do Clube. De resto esta Direcção tinha entre os seus membros vários homens ligados à prática do desporto, logo com uma sensibilidade e conhecimentos fundamentais para potenciar o desenvolvimento desportivo do Clube.

Os custos com o Futebol neste ano acenderam aos 965 contos, a maior parte dos quais referentes a pagamentos a jogadores e treinadores, enquanto as receitas se ficaram pelos 762 contos, uma verba quase inteiramente resultante da bilheteira.

Nas modalidades extra Futebol, o Atletismo continuou em grande plano, com destaque para a renovação dos dois títulos de Campeão Nacional de Clubes, logo seguido pelo Ciclismo, pese embora o falhanço na Volta a Portugal, enquanto o Andebol teve um ano menos produtivo, ganhando apenas o Campeonato Regional de 2ª categoria. Em contrapartida no Ténis de Mesa o Sporting foi Campeão Nacional pela primeira vez na sua história. Nas restantes secções há a registar alguns títulos no Ténis e a vitória no Campeonato de Lisboa de Basquetebol, no segundo escalão, numa altura em que no Sporting também se praticava Voleibol, Râguebi, Natação, Tiro e Damas. No total, neste ano o Sporting ganhou 52 taças e troféus, com o Ciclismo (19) e o Atletismo (13) a darem os maiores contributos.

O Ciclismo e o Atletismo continuavam a ser a seguir ao Futebol as modalidades mais caras, com custos de cerca de 90 e 80 contos respectivamente, sendo logo seguidas pelo Ténis que continuava a ser a única secção financeiramente limpa, com receitas de cerca de 42 contos, um valor praticamente igual ao das despesas. No total a actividade desportiva do Sporting Clube de Portugal orçava os 1280 contos, contra cerca de 834 contos de receitas, ou seja, dava quase 450 contos de prejuízo.

O número de sócios continuava a crescer e durante este ano registaram 2520 novas filiações, pelo que o Clube no final de 1946 tinha 11521 associados, que geraram uma receita em cotização que ultrapassou os 755 contos. Em termos de despesas, os gastos gerais já ultrapassavam os 300 contos, enquanto o Campo Atlético gerara um custo de cerca de 105 contos. Como curiosidade diga-se que o Boletim deu um prejuízo de cerca de 12 contos. O balanço final do exercício apresentava um saldo positivo de um pouco mais de 153 contos.

Numa das suas primeiras medidas a Direcção de Ribeiro Ferreira criou o Conselho das Filiais e Delegações, cumprindo uma determinação do I Congresso Leonino e logo de seguida o Presidente deslocou-se a África, onde visitou as Filiais de Luanda, Lobito, Novo Redondo, Benguela e São Tomé, numa jornada de propaganda e estreitamento de relações entre o Clube sede e as suas extensões africanas.

O adeus à terra batida

Outro marco importante desta Gerência, foi o inicio das obras no Estádio do Lumiar, que arrancaram no Verão de 1946, depois de concluída a época do Futebol, numa cerimónia que decorreu durante os festejos do 40º aniversário do Clube, com os sócios a serem convidados a empunhar enxadas na escavação do terreno de jogo, naquele que era o adeus à terra batida. O projecto finalmente aprovado pela Câmara Municipal, previa o arrelvamento do campo, a remodelação dos balneários, a ampliação das bancadas que passariam a comportar 15 mil lugares, a retificação do peão cuja lotação passaria a ser para cerca de 20 mil espectadores, melhoramentos na pista de Atletismo e cimentação da pista de Ciclismo, havendo ainda a possibilidade de se construir um ginásio. Estas obras tinham a duração prevista para cerca de um ano, durante o qual o Sporting passaria a jogar no campo da CUF, conhecido como Lumiar A, que ficava precisamente onde o Clube tinha tido as suas primeiras instalações desportivas.

Para uma segunda fase, ainda dependente da resolução do problema do Campo do Benfica, que continuava a ocupar a Estância de Madeira no Campo Grande, o Sporting planeava construir o seu Palácio dos Desportos, com campos de Basquetebol e Voleibol, ringue de patinagem, piscina, carreira de tiro e seis cortes de Ténis, para além de um vasto parque de estacionamento.

O problema da Sede não estava esquecido, mas os enormes encargos resultantes das obras no Estádio, levaram a Direcção a convocar uma Assembleia Geral extraordinária onde foi proposto que o fundo pró-sede fosse utilizado para financiar as referidas obras e solicitada a autorização para proceder a algumas alterações ao projecto do novo estádio, que já tinha sido anteriormente aprovado pelos sócios do Sporting.

Nessa Assembleia Geral, a Direcção expôs aos seus associados todas as diligências feitas no sentido de levar a cabo os projectos atrás referidos, ficando em aberto a possibilidade de se construir uma Sede que pudesse também albergar instalações desportivas para as modalidades extra futebol, no âmbito do sonho do Palácio dos Desportos, ou em alternativa a aquisição, ou aluguer, de um prédio que tivesse condições para instalar condignamente os serviços do Clube e as suas secções desportivas e promover as actividades sociais e recreativas entre os sportinguistas.

Foi também aprovada a constituição de uma comissão formada por Góis Mota, Santos Ferro e Carlos Correia, que ficou encarregue de elaborar o projecto de revisão dos Estatutos, onde foi feita uma arrumação nas categorias de sócios, criado o Conselho Geral e a Comissão da Sede, Campo e Propaganda, regulamentadas as relações entre o Clube e as suas Filiais e Delegações e introduzida a novidade da criação de um seguro para os atletas do Clube, inteiramente suportado por este, que visava proteger os desportistas leoninos dos infortúnios da competição e garantir-lhes um prémio no final das suas carreiras, desde que tivessem pelo menos 10 anos de actividade ao serviço do Sporting.

To-mane 15h03min de 26 de Outubro de 2011 (WEST)