No dia 7 de Agosto de 1979 João Rocha informou o Conselho Leonino da sua intenção de se demitir da Presidência do Sporting Clube de Portugal, dando origem a uma longa crise directiva.
Realizou-se então uma Assembleia-Geral extraordinária, no dia 5 de Setembro de 1979, onde por proposta da Comissão Delegada anteriormente constituída, foi nomeada uma Comissão de Gestão liderada pelo próprio João Rocha, que tinha como missão assegurar a gerência do Clube até que fosse eleita uma nova Direção, com a seguinte constituição:
A tomada de posse de João Rocha
O Sporting é recebido pelo Secretário dos Desportos de Angola
Fernando Mendes e Radisic, uma dupla de Campeões
Manuel Fernandes em ombros
O Sporting recebido pelo Governo
João Rocha aclamado na AG de Julho de 1980
A esta Comissão foram atribuídos os poderes que na generalidade cabiam à Direção e ainda os poderes especiais que lhe foram concedidos em anteriores Assembleia Gerais, pelo que acabou por gerir o Clube durante um ano, que correspondeu a uma época desportiva, em que o Sporting conseguiu ganhar o Campeonato Nacional de Futebol, apesar de toda a instabilidade vivida nesse período, em que o treinador interino Rodrigues Dias foi substituído pela dupla formada por Fernando Mendes e Srecko Radisic, isto depois de algumas polémicas à volta de arbitragens que prejudicaram o Sporting.
No Andebol o Sporting também conseguiu ganhar o Campeonato Nacional, tal como no Atletismo feminino e no Corta Mato masculino e noutras modalidades amadoras como o Bilhar, o Boxe, as Lutas Amadoras, o Ténis de Mesa, o Tiro, o Tiro com Arco e o Mini-Trampolim, enquanto o Basquetebol ganhou a Taça de Portugal, isto numa altura em que a Ginástica leonina movimentava cerca de 3500 jovens, com destaque para Avelina Alvarez que esteve presente nos Jogos Olímpicos de Moscovo, à semelhança do pugilista Paquito e do fundista Bernardo Manuel, este em representação de Angola, uma delegação reduzida devido ao boicote de inúmeros atletas as estas olimpíadas.
A época foi também marcada por duas digressões, primeiro a Angola, aonde em Novembro se deslocou uma comitiva de 128 elementos de várias modalidades e, a fechar, aos Estados Unidos e ao Canadá, só com a equipa de Futebol.
Na Assembleia Geral em que esta Comissão de Gestão foi empossada, João Rocha justificou a sua decisão de abandonar o Clube com o tratamento desigual dado ao Sporting em relação ao Benfica, em questões fundamentais como a atribuição de terrenos para construção e outros benefícios por parte das entidades oficiais e as dificuldades na angariação de financiamento para a sua Sociedade de Construções e Planeamento que ainda não saíra do papel.
Esta Comissão de Gestão propunha-se a fazer um levantamento da situação administrativa, financeira e desportiva do Clube, a fim de poder apresentar aos sócios um plano de trabalhos donde pudesse sair a definição de um rumo para o futuro, tendo sido apresentado ao Conselho Leonino um pacote de medidas que visavam o aumento das receitas e a redução e racionalização das despesas, onde se propunha uma campanha de angariação de sócios, o alargamento do número de lugares cativos, o aumento da quotização, o desenvolvimento do sector da publicidade, a melhor exploração dos parques de estacionamento e dos bares e a rentabilização de outras instalações, a dinamização dos núcleos, a instalação e venda de cadeiras na bancada central, a redução do pessoal existente e a atualização dos respetivos vencimentos, a necessidade de se repensar as modalidades, eliminando algumas e dotando outras de orçamentos pré fixados, dando-lhes autonomia administrativa, entre outras propostas de menor impacto.
No final do ano de 1979 a Câmara Municipal de Lisboa aprovou o projeto do conjunto gimnodesportivo do Sporting, que obteve junto da Caixa Geral de Depósitos um empréstimo de 10 mil contos para o pagamento dos terrenos que serviram para a permuta efetuada com o município, mas isso ainda não era suficiente para desbloquear a situação, numa altura em que o Sporting já tinha um passivo de cerca de 90 mil contos, 20 mil dos quais imediatamente exigíveis, e o orçamento para 1980 previa um deficit de cerca de 12 mil contos, o que misturado com a crise financeira que o País atravessava, com uma inflação galopante e taxas de juros elevadíssimas, tornava cada vez mais complicada a viabilização dos projetos de João Rocha que passavam pela Sociedade de Construções e Planeamento e pela construção da Cidade Desportiva.
Na Assembleia Geral de 3 de Maio de 2024 foi aprovado o Relatório e Contas de 1979, que registava um exercício com um saldo positivo de 383 contos, um valor considerado apreciável, uma vez que foram efetuadas amortizações no montante de 1960 contos.
As receitas globais do exercício atingiram um valor recorde de cerca de 133 mil contos, mais de 51 mil contos do que no ano anterior, o que resultava essencialmente do aumento de 47,8% na rubrica das quotizações que ultrapassaram os 34 mil contos, enquanto as receitas desportivas também sofreram um significativo crescimento aproximando-se dos 73 mil contos, estando aqui incluídas as cedências dos futebolistas Artur Correia e Salif Keita ao Tea Man.
As despesas tiveram um acréscimo de 61,2%, ultrapassando os 127 550 contos, o que se explicava com os investimentos efetuados e o crescimento do numero de praticantes desportivos, mas também com a elevada inflação que atingia o País.
A atividade desportiva teve um saldo negativo que ultrapassou os 10 mil contos, mais de metade dos quais à conta do Departamento de Futebol cujos encargos ultrapassaram os 63 mil contos, contra mais de 58 mil contos de receitas, mas na alta competição modalidades como o Andebol (1500 contos), o Basquetebol (1600 contos) e o Hóquei em Patins (1300 contos), também já eram significativamente deficitárias, ao contrário da Ginástica e da Natação, que eram as únicas a dar lucro.
O ativo já contabilizando os terrenos com projetos aprovados e avaliados em cerca de 447 mil contos, ultrapassou os 492 mil contos, um acréscimo de mais de 486 mil contos em relação ao ano anterior. Simultaneamente o passivo aproximou-se dos 129 mil contos, sofrendo um agravamento de mais de 42 mil contos, em virtude da necessidade de obtenção de recursos aplicados no financiamento da expansão do ativo, nomeadamente com a aquisição de terrenos cuja alienação não prejudicava a construção da Cidade Desportiva, nem punha em causa a expansão de outras infraestruturas do Clube.
Salientava-se ainda que o ativo imobilizado estava prudentemente sub avaliado devido ao surto inflacionário.
O resto foram os constantes sobressaltos resultantes da interminável crise de 1979-80, que se prolongaria até ao dia 19 de Julho de 1980, altura em que terminou a Assembleia-Geral extraordinária que já se arrastava há algum tempo, depois de Nunes dos Santos informar os sócios da assinatura de um protocolo com o Governo e a Câmara Municipal de Lisboa, que permitia a utilização da área compreendida entre o Pavilhão de Alvalade e o antigo restaurante Frou-Frou, pelo que o Sporting poderia finalmente avançar com os seus projetos que contemplavam o fecho do peão, a construção de um pavilhão e de dois campos de treino relvados, para além de um empreendimento imobiliário, que previa a construção de um complexo habitacional e de um centro terciário.
Foi então aprovado, por proposta de Nunes dos Santos, um requerimento ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral, no sentido de que fosse agendada uma Assembleia-Geral eleitoral para o fim do mês, e de que as listas concorrentes apresentassem o seu programa de ação no Jornal Sporting. Perante este cenário, João Rocha a quem o Clube na altura devia cerca de 30 mil contos, foi desafiado a continuar na liderança do Sporting, recebendo mais uma vez o apoio inequívoco e entusiástico dos sócios.
Foi então que o Coordenador da Comissão de Gestão afirmou que o Sporting não era um partido único e que estavam criadas as condições para que não fosse o Conselho Leonino a indicar a Direção, ficando o poder de nas mãos do voto secreto dos sócios, pelo que se havia um grupo de pessoas que pretendiam formar uma lista, que avançassem, negando-se, por ora, a responder ao desafio de esclarecer, já e ali, se aceitava ou não continuar na Presidência do Clube.
Respondeu Emílio Borges Correia, informando que o que o levara a ponderar uma candidatura, fora ver o Sporting a esmolar um Presidente, pretendendo apenas ajudar a solucionar a crise, sem nunca ter tido a intenção de criar divisionismos, pelo que se João Rocha aceitasse continuar, retirava-se para o apoiar.
Assim, no dia 31 de Julho de 1980 realizou-se uma Assembleia-Geral eleitoral onde foi eleita uma nova Direção presidida por João Rocha, sem a concorrência de nenhuma outra lista.
To-mane 13h03min de 16 de Novembro de 2011 (WET)