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Em 1984 a Secção de [[Ciclismo]] do Sporting tinha chegado a um patamar de organização e competitividade muito elevado, com contratações de vulto, com ambição e com um palmarés na Volta a Portugal de 11 vitórias colectivas e 7 individuais. Para esse ano, era objectivo do Sporting mostrar as cores do seu Ciclismo, agora além fronteiras.
 
Em 1984 a Secção de [[Ciclismo]] do Sporting tinha chegado a um patamar de organização e competitividade muito elevado, com contratações de vulto, com ambição e com um palmarés na Volta a Portugal de 11 vitórias colectivas e 7 individuais. Para esse ano, era objectivo do Sporting mostrar as cores do seu Ciclismo, agora além fronteiras.
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A Equipa de Ciclismo do Sporting, claramente a líder do pelotão nacional, começou a época a preparar-se para grandes vitórias dentro e fora de Portugal.
 
A Equipa de Ciclismo do Sporting, claramente a líder do pelotão nacional, começou a época a preparar-se para grandes vitórias dentro e fora de Portugal.
  
 
Mas a 30 de Abril, a Equipa sofre um tremendo revés, ao perder num estúpido acidente o seu Líder e Herói [[Joaquim Agostinho]], quando este, como não podia deixar de ser, liderava a Volta ao Algarve.
 
Mas a 30 de Abril, a Equipa sofre um tremendo revés, ao perder num estúpido acidente o seu Líder e Herói [[Joaquim Agostinho]], quando este, como não podia deixar de ser, liderava a Volta ao Algarve.
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Agora, mais do que nunca, era necessário mostrar ao mundo a grandeza do Sporting e sobretudo honrar Agostinho.
 
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A Equipa era composta por: 071 - [[Marco Chagas]];  072 - Michel Charreard; 073 - [[Eduardo Correia]]; 074 - Alain Dithurbide; 075 - Benedito Ferreira; 076 - [[Paulo Ferreira]]; 077 - Carlos Marta; 078 - Patrice Thevenard; 079 - José Xavier e 080 - Manuel Zeferino.
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Pela frente o Sporting teria um prólogo e 23 etapas num total de 4.020,9 Km, com 5 etapas de montanha, 3 contra-relógios individuais (para além do prólogo) e 1 contra-relógio por equipas.
 
Pela frente o Sporting teria um prólogo e 23 etapas num total de 4.020,9 Km, com 5 etapas de montanha, 3 contra-relógios individuais (para além do prólogo) e 1 contra-relógio por equipas.
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Em breve o sportinguista iria ter a companhia de dois franceses também fugidos do pelotão: Vicent Barteau e Maurice Guilloux. 'Eles passaram por mim a uma velocidade tal que nem me ligaram nenhuma. Preparei-me e lancei-me no encalço deles.' Entretanto, surgem as metas volantes e 'na primeira eles sprintaram e ganharam algum avanço. Não me fiz a nada, não mostrei que era mais ou menos rápido, fechei-me em copas e só lhes disse que não precisavam de sprintar porque o meu objectivo era chegar ao fim e o terceiro lugar para um português já era muito bom.' Mas na cabeça de Paulo Ferreira o primeiro lugar já se afigura como um objectivo cada vez mais concretizável. 'Uma vez integrado na fuga, a ideia era chegar ao fim e se possível ganhar', conta o ex-ciclista.
 
Em breve o sportinguista iria ter a companhia de dois franceses também fugidos do pelotão: Vicent Barteau e Maurice Guilloux. 'Eles passaram por mim a uma velocidade tal que nem me ligaram nenhuma. Preparei-me e lancei-me no encalço deles.' Entretanto, surgem as metas volantes e 'na primeira eles sprintaram e ganharam algum avanço. Não me fiz a nada, não mostrei que era mais ou menos rápido, fechei-me em copas e só lhes disse que não precisavam de sprintar porque o meu objectivo era chegar ao fim e o terceiro lugar para um português já era muito bom.' Mas na cabeça de Paulo Ferreira o primeiro lugar já se afigura como um objectivo cada vez mais concretizável. 'Uma vez integrado na fuga, a ideia era chegar ao fim e se possível ganhar', conta o ex-ciclista.
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Fugidos e chegando a ter vários minutos de avanço do pelotão, os dois franceses vão pressionando o português para ir para a frente puxar. ‘Allez, allez!’ diziam-me eles. Colaborei mas não dava aquilo que eles queriam!'. Do carro de apoio, o director desportivo, Artur Lopes, grita-lhe por vezes: 'Tens que ganhar, tens que ganhar!'
 
Fugidos e chegando a ter vários minutos de avanço do pelotão, os dois franceses vão pressionando o português para ir para a frente puxar. ‘Allez, allez!’ diziam-me eles. Colaborei mas não dava aquilo que eles queriam!'. Do carro de apoio, o director desportivo, Artur Lopes, grita-lhe por vezes: 'Tens que ganhar, tens que ganhar!'
  
 
O fim da etapa é apenas à segunda passagem pela meta. E foi só depois de Paulo Ferreira passar a primeira vez a meta, faltando cerca de 5 quilómetros para o final, que os franceses começam a combinar táctica entre si. 'Eles mandaram-me para a frente para falar. Eu percebia um pouco de francês mas aí já não percebia nada do que falavam', relembra. Mas a sua intuição diz-lhe que Barteau, que era sprinter, quer ganhar a corrida.
 
O fim da etapa é apenas à segunda passagem pela meta. E foi só depois de Paulo Ferreira passar a primeira vez a meta, faltando cerca de 5 quilómetros para o final, que os franceses começam a combinar táctica entre si. 'Eles mandaram-me para a frente para falar. Eu percebia um pouco de francês mas aí já não percebia nada do que falavam', relembra. Mas a sua intuição diz-lhe que Barteau, que era sprinter, quer ganhar a corrida.
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Faltava um quilómetro para a meta quando Guillloux ataca e se posiciona na frente. O português segura-se e não se faz ao lance. Há que manter o plano até ao fim. Barteau ataca também e posiciona-se atrás do compatriota. E quando faltam cerca de 50 metros para a meta Paulo Ferreira, que seguia em terceiro, explode numa arrancada imparável e passa os dois franceses. 'A margem com que eu ganhei foi suficiente para ele [o segundo] baixar os braços antes de cortar a meta. Não teve hipótese!'|Correio da Manhã}}
 
Faltava um quilómetro para a meta quando Guillloux ataca e se posiciona na frente. O português segura-se e não se faz ao lance. Há que manter o plano até ao fim. Barteau ataca também e posiciona-se atrás do compatriota. E quando faltam cerca de 50 metros para a meta Paulo Ferreira, que seguia em terceiro, explode numa arrancada imparável e passa os dois franceses. 'A margem com que eu ganhei foi suficiente para ele [o segundo] baixar os braços antes de cortar a meta. Não teve hipótese!'|Correio da Manhã}}

Revisão das 15h26min de 11 de janeiro de 2012

Em 1984 a Secção de Ciclismo do Sporting tinha chegado a um patamar de organização e competitividade muito elevado, com contratações de vulto, com ambição e com um palmarés na Volta a Portugal de 11 vitórias colectivas e 7 individuais. Para esse ano, era objectivo do Sporting mostrar as cores do seu Ciclismo, agora além fronteiras.

A Partida

A Equipa de Ciclismo do Sporting, claramente a líder do pelotão nacional, começou a época a preparar-se para grandes vitórias dentro e fora de Portugal.

Mas a 30 de Abril, a Equipa sofre um tremendo revés, ao perder num estúpido acidente o seu Líder e Herói Joaquim Agostinho, quando este, como não podia deixar de ser, liderava a Volta ao Algarve.

A Fuga

Agora, mais do que nunca, era necessário mostrar ao mundo a grandeza do Sporting e sobretudo honrar Agostinho.

E foi assim, que liderado por Fiel Farinha e sob a direcção desportiva de Artur Lopes, o Sporting se apresentou à partida daquela que é a maior prova e a grande montra do ciclismo mundial, a Volta à França.

A Equipa era composta por: 071 - Marco Chagas; 072 - Michel Charreard; 073 - Eduardo Correia; 074 - Alain Dithurbide; 075 - Benedito Ferreira; 076 - Paulo Ferreira; 077 - Carlos Marta; 078 - Patrice Thevenard; 079 - José Xavier e 080 - Manuel Zeferino.

O Sprint

Pela frente o Sporting teria um prólogo e 23 etapas num total de 4.020,9 Km, com 5 etapas de montanha, 3 contra-relógios individuais (para além do prólogo) e 1 contra-relógio por equipas.

A partida aconteceu para as 17 equipas que compunham o Pelotão de 170 corredores a 29 Junho nos arredores de Paris.

Na Equipa de Ciclismo do Sporting só havia um desejo fazer figura honrando Agostinho.

Esse desejo foi realizado a 3 de Julho de 1984, quando o Sporting vence através de Paulo Ferreira a 5ª Etapa do Tour, disputada entre Bethune e Cergy Pontoise num total de 207 km.

É o próprio Paulo Ferreira que nos conta como tudo aconteceu:

Tinham passado apenas cinco quilómetros desde o início da 5ª etapa, que decorria entre Béthune, no Norte de França, e Cergy-Pontoise, perto de Paris. O pelotão ia em andamento moderado quando Paulo Ferreira decide atacar. 'Alguns começaram a assobiar. Mas havia uma contagem de montanha de quarta categoria à frente e eu pensei que, se a passasse em primeiro, pelo menos um ciclista português ganhava uma contagem.' Da parte da equipa técnica há alguma pressão para o conjunto português ganhar alguma coisa. Paulo Ferreira passa a contagem de montanha em primeiro, sozinho e já com algum avanço. 'Foi então que disse, ‘bom, o que é que eu vou fazer agora?!’ Ainda faltavam uns 200 quilómetros... Fui andando!' Em breve o sportinguista iria ter a companhia de dois franceses também fugidos do pelotão: Vicent Barteau e Maurice Guilloux. 'Eles passaram por mim a uma velocidade tal que nem me ligaram nenhuma. Preparei-me e lancei-me no encalço deles.' Entretanto, surgem as metas volantes e 'na primeira eles sprintaram e ganharam algum avanço. Não me fiz a nada, não mostrei que era mais ou menos rápido, fechei-me em copas e só lhes disse que não precisavam de sprintar porque o meu objectivo era chegar ao fim e o terceiro lugar para um português já era muito bom.' Mas na cabeça de Paulo Ferreira o primeiro lugar já se afigura como um objectivo cada vez mais concretizável. 'Uma vez integrado na fuga, a ideia era chegar ao fim e se possível ganhar', conta o ex-ciclista.

A Vitória

Fugidos e chegando a ter vários minutos de avanço do pelotão, os dois franceses vão pressionando o português para ir para a frente puxar. ‘Allez, allez!’ diziam-me eles. Colaborei mas não dava aquilo que eles queriam!'. Do carro de apoio, o director desportivo, Artur Lopes, grita-lhe por vezes: 'Tens que ganhar, tens que ganhar!'

O fim da etapa é apenas à segunda passagem pela meta. E foi só depois de Paulo Ferreira passar a primeira vez a meta, faltando cerca de 5 quilómetros para o final, que os franceses começam a combinar táctica entre si. 'Eles mandaram-me para a frente para falar. Eu percebia um pouco de francês mas aí já não percebia nada do que falavam', relembra. Mas a sua intuição diz-lhe que Barteau, que era sprinter, quer ganhar a corrida.

A Festa
Faltava um quilómetro para a meta quando Guillloux ataca e se posiciona na frente. O português segura-se e não se faz ao lance. Há que manter o plano até ao fim. Barteau ataca também e posiciona-se atrás do compatriota. E quando faltam cerca de 50 metros para a meta Paulo Ferreira, que seguia em terceiro, explode numa arrancada imparável e passa os dois franceses. 'A margem com que eu ganhei foi suficiente para ele [o segundo] baixar os braços antes de cortar a meta. Não teve hipótese!'

Correio da Manhã

Paulo Ferreira concluiu a etapa na frente, com 4h 49’ 45’’, ficando o segundo classificado com o mesmo tempo, o terceiro a 1 segundo e o pelotão a 17 minutos e 41 segundos, nessa etapa desistiu um corredor, ficando o pelotão com 167 ciclistas.

Fruto da vitória e do tempo conquistado, Paulo Ferreira passou a ser 3º classificado da geral, posição que ocupou durante mais 5 etapas.

No final da prova, apenas 9 das 17 equipas lograram vencer etapas e o Sporting foi uma delas, facto nunca mais repetido pelo ciclismo nacional.

O desejo expresso por todos à partida tinha sido concretizado!