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Em 1984 a [[Ciclismo|Secção de Ciclismo do Sporting]] tinha chegado a um patamar de organização e competitividade muito elevado, com contratações de vulto, com ambição e com um palmarés na Volta a Portugal de 11 vitórias colectivas e 7 individuais, era objectivo do Sporting mostrar as cores do seu Ciclismo agora além fronteiras.
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[[Imagem:Tour1984-PauloFerreira-Pódio.jpg|thumb|right|Paulo Ferreira no Pódio no final da 5ª Etapa do Tour]]
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Em 1984 a Secção de [[Ciclismo]] do Sporting tinha chegado a um patamar de organização e competitividade muito elevado, com contratações de vulto, com ambição e com um palmarés na Volta a Portugal de 11 vitórias colectivas e 7 individuais. Para esse ano, era objectivo do Sporting mostrar as cores do seu Ciclismo, agora além fronteiras.
  
 
A Equipa de Ciclismo do Sporting, claramente a líder do pelotão nacional, começou a época a preparar-se para grandes vitórias dentro e fora de Portugal.
 
A Equipa de Ciclismo do Sporting, claramente a líder do pelotão nacional, começou a época a preparar-se para grandes vitórias dentro e fora de Portugal.
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Agora, mais do que nunca, era necessário mostrar ao mundo a grandeza do Sporting e sobretudo honrar Agostinho.
 
Agora, mais do que nunca, era necessário mostrar ao mundo a grandeza do Sporting e sobretudo honrar Agostinho.
  
E foi assim que sob a Direcção Desportiva de Artur Lopes, o Sporting se apresentou à partida daquela que é a maior prova e a grande montra do ciclismo mundial, a Volta à França.
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E foi assim, que liderado por Fiel Farinha, com Artur Lopes como Director Desportivo e [[Emídio Pinto]] como Técnico que o Sporting se apresentou à partida daquela que é a maior prova e a grande montra do ciclismo mundial, a Volta à França.
  
A Equipa era composta por: 071 [[Marco Chagas]];  072 - Michel Charreard; 073 - [[Eduardo Correia]]; 074 - Alain Dithurbide; 075 - Benedito Ferreira; 076 - [[Paulo Ferreira]]; 077 - Carlos Marta; 078 - Patrice Thevenard; 079 - José Xavier e 080 - Manuel Zeferino.
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A Equipa era composta por: 071 - [[Marco Chagas]];  072 - Michel Charreard; 073 - [[Eduardo Correia]]; 074 - Alain Dithurbide; 075 - Benedito Ferreira; 076 - [[Paulo Ferreira]]; 077 - Carlos Marta; 078 - Patrice Thevenard; 079 - José Xavier e 080 - Manuel Zeferino.
  
 
Pela frente o Sporting teria um prólogo e 23 etapas num total de 4.020,9 Km, com 5 etapas de montanha, 3 contra-relógios individuais (para além do prólogo) e 1 contra-relógio por equipas.
 
Pela frente o Sporting teria um prólogo e 23 etapas num total de 4.020,9 Km, com 5 etapas de montanha, 3 contra-relógios individuais (para além do prólogo) e 1 contra-relógio por equipas.
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Na Equipa de Ciclismo do Sporting só havia um desejo fazer figura honrando Agostinho.
 
Na Equipa de Ciclismo do Sporting só havia um desejo fazer figura honrando Agostinho.
  
Esse desejo foi realizado a 3 de Julho de 1984, quando o Sporting vence através de Paulo Ferreira a 5ª Etapa do Tour, disputada entre Bethune e Cergy Pontoise num total de 207 km.
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Esse desejo foi realizado a 3 de Julho de 1984, quando o Sporting vence através de Paulo Ferreira a 5ª Etapa do Tour, disputada entre Bethune e Cergy-Pontoise num total de 207 km.
  
 
É o próprio [[Paulo Ferreira]] que nos conta como tudo aconteceu:
 
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{{Quote|Tinham passado apenas cinco quilómetros desde o início da 5ª etapa, que decorria entre Béthune, no Norte de França, e Cergy-Pontoise, perto de Paris. O pelotão ia em andamento moderado quando Paulo Ferreira decide atacar. 'Alguns começaram a assobiar. Mas havia uma contagem de montanha de quarta categoria à frente e eu pensei que, se a passasse em primeiro, pelo menos um ciclista português ganhava uma contagem.' Da parte da equipa técnica há alguma pressão para o conjunto português ganhar alguma coisa. Paulo Ferreira passa a contagem de montanha em primeiro, sozinho e já com algum avanço. 'Foi então que disse, ‘bom, o que é que eu vou fazer agora?!’ Ainda faltavam uns 200 quilómetros... Fui andando!'
 
{{Quote|Tinham passado apenas cinco quilómetros desde o início da 5ª etapa, que decorria entre Béthune, no Norte de França, e Cergy-Pontoise, perto de Paris. O pelotão ia em andamento moderado quando Paulo Ferreira decide atacar. 'Alguns começaram a assobiar. Mas havia uma contagem de montanha de quarta categoria à frente e eu pensei que, se a passasse em primeiro, pelo menos um ciclista português ganhava uma contagem.' Da parte da equipa técnica há alguma pressão para o conjunto português ganhar alguma coisa. Paulo Ferreira passa a contagem de montanha em primeiro, sozinho e já com algum avanço. 'Foi então que disse, ‘bom, o que é que eu vou fazer agora?!’ Ainda faltavam uns 200 quilómetros... Fui andando!'
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Faltava um quilómetro para a meta quando Guillloux ataca e se posiciona na frente. O português segura-se e não se faz ao lance. Há que manter o plano até ao fim. Barteau ataca também e posiciona-se atrás do compatriota. E quando faltam cerca de 50 metros para a meta Paulo Ferreira, que seguia em terceiro, explode numa arrancada imparável e passa os dois franceses. 'A margem com que eu ganhei foi suficiente para ele [o segundo] baixar os braços antes de cortar a meta. Não teve hipótese!'|Correio da Manhã}}
 
Faltava um quilómetro para a meta quando Guillloux ataca e se posiciona na frente. O português segura-se e não se faz ao lance. Há que manter o plano até ao fim. Barteau ataca também e posiciona-se atrás do compatriota. E quando faltam cerca de 50 metros para a meta Paulo Ferreira, que seguia em terceiro, explode numa arrancada imparável e passa os dois franceses. 'A margem com que eu ganhei foi suficiente para ele [o segundo] baixar os braços antes de cortar a meta. Não teve hipótese!'|Correio da Manhã}}
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Para a posteridade ficou a Classificação da Etapa:
  
[[Paulo Ferreira]] concluiu a etapa na frente, com 4h 49’ 45’’, ficando o segundo classificado com o mesmo tempo, o terceiro a 1 segundo e o pelotão a 17 minutos e 41 segundos, nessa etapa desistiu um corredor, ficando o pelotão com 167 ciclistas.
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* 1º Paulo Ferreira - Sporting - 4h 49' 45 seg à média de 42, 864 Km/h
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* 2º Vincent Barteau - Renault Elf - mt
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* 3º Maurice Le Guilloux - Vie Claire - a 1 seg
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* 4º Bernard Vallet - Vie Claire - a 17' 41 seg
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* 5º Eddy Planckaert - Panasonic - a 17' 42 seg
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* Pelotão 152 unidades - a 17' 42 seg
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* Retardatários 10 unidades - a + 18'07 seg
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Na Etapa desistiu um corredor, ficando o pelotão com 167 ciclistas.
  
 
Fruto da vitória e do tempo conquistado, [[Paulo Ferreira]] passou a ser 3º classificado da geral, posição que ocupou durante mais 5 etapas.
 
Fruto da vitória e do tempo conquistado, [[Paulo Ferreira]] passou a ser 3º classificado da geral, posição que ocupou durante mais 5 etapas.
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O desejo expresso por todos à partida tinha sido concretizado!
 
O desejo expresso por todos à partida tinha sido concretizado!
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E o Sporting tinha realizado uma das suas maiores proezas desportivas!
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[[Categoria:Grandes Feitos do Ciclismo]]

Edição atual desde as 11h46min de 25 de abril de 2016

Volta á França.png
O Tour de 1984
Paulo Ferreira no Pódio no final da 5ª Etapa do Tour

Em 1984 a Secção de Ciclismo do Sporting tinha chegado a um patamar de organização e competitividade muito elevado, com contratações de vulto, com ambição e com um palmarés na Volta a Portugal de 11 vitórias colectivas e 7 individuais. Para esse ano, era objectivo do Sporting mostrar as cores do seu Ciclismo, agora além fronteiras.

A Equipa de Ciclismo do Sporting, claramente a líder do pelotão nacional, começou a época a preparar-se para grandes vitórias dentro e fora de Portugal.

Mas a 30 de Abril, a Equipa sofre um tremendo revés, ao perder num estúpido acidente o seu Líder e Herói Joaquim Agostinho, quando este, como não podia deixar de ser, liderava a Volta ao Algarve.

Agora, mais do que nunca, era necessário mostrar ao mundo a grandeza do Sporting e sobretudo honrar Agostinho.

E foi assim, que liderado por Fiel Farinha, com Artur Lopes como Director Desportivo e Emídio Pinto como Técnico que o Sporting se apresentou à partida daquela que é a maior prova e a grande montra do ciclismo mundial, a Volta à França.

A Equipa era composta por: 071 - Marco Chagas; 072 - Michel Charreard; 073 - Eduardo Correia; 074 - Alain Dithurbide; 075 - Benedito Ferreira; 076 - Paulo Ferreira; 077 - Carlos Marta; 078 - Patrice Thevenard; 079 - José Xavier e 080 - Manuel Zeferino.

Pela frente o Sporting teria um prólogo e 23 etapas num total de 4.020,9 Km, com 5 etapas de montanha, 3 contra-relógios individuais (para além do prólogo) e 1 contra-relógio por equipas.

A partida aconteceu para as 17 equipas que compunham o Pelotão de 170 corredores a 29 Junho nos arredores de Paris.

Na Equipa de Ciclismo do Sporting só havia um desejo fazer figura honrando Agostinho.

Esse desejo foi realizado a 3 de Julho de 1984, quando o Sporting vence através de Paulo Ferreira a 5ª Etapa do Tour, disputada entre Bethune e Cergy-Pontoise num total de 207 km.

É o próprio Paulo Ferreira que nos conta como tudo aconteceu:

A Partida
A Fuga
O Sprint
A Vitória
Reportagem do triunfo

Tinham passado apenas cinco quilómetros desde o início da 5ª etapa, que decorria entre Béthune, no Norte de França, e Cergy-Pontoise, perto de Paris. O pelotão ia em andamento moderado quando Paulo Ferreira decide atacar. 'Alguns começaram a assobiar. Mas havia uma contagem de montanha de quarta categoria à frente e eu pensei que, se a passasse em primeiro, pelo menos um ciclista português ganhava uma contagem.' Da parte da equipa técnica há alguma pressão para o conjunto português ganhar alguma coisa. Paulo Ferreira passa a contagem de montanha em primeiro, sozinho e já com algum avanço. 'Foi então que disse, ‘bom, o que é que eu vou fazer agora?!’ Ainda faltavam uns 200 quilómetros... Fui andando!' Em breve o sportinguista iria ter a companhia de dois franceses também fugidos do pelotão: Vicent Barteau e Maurice Guilloux. 'Eles passaram por mim a uma velocidade tal que nem me ligaram nenhuma. Preparei-me e lancei-me no encalço deles.' Entretanto, surgem as metas volantes e 'na primeira eles sprintaram e ganharam algum avanço. Não me fiz a nada, não mostrei que era mais ou menos rápido, fechei-me em copas e só lhes disse que não precisavam de sprintar porque o meu objectivo era chegar ao fim e o terceiro lugar para um português já era muito bom.' Mas na cabeça de Paulo Ferreira o primeiro lugar já se afigura como um objectivo cada vez mais concretizável. 'Uma vez integrado na fuga, a ideia era chegar ao fim e se possível ganhar', conta o ex-ciclista. Fugidos e chegando a ter vários minutos de avanço do pelotão, os dois franceses vão pressionando o português para ir para a frente puxar. ‘Allez, allez!’ diziam-me eles. Colaborei mas não dava aquilo que eles queriam!'. Do carro de apoio, o director desportivo, Artur Lopes, grita-lhe por vezes: 'Tens que ganhar, tens que ganhar!' O fim da etapa é apenas à segunda passagem pela meta. E foi só depois de Paulo Ferreira passar a primeira vez a meta, faltando cerca de 5 quilómetros para o final, que os franceses começam a combinar táctica entre si. 'Eles mandaram-me para a frente para falar. Eu percebia um pouco de francês mas aí já não percebia nada do que falavam', relembra. Mas a sua intuição diz-lhe que Barteau, que era sprinter, quer ganhar a corrida. Faltava um quilómetro para a meta quando Guillloux ataca e se posiciona na frente. O português segura-se e não se faz ao lance. Há que manter o plano até ao fim. Barteau ataca também e posiciona-se atrás do compatriota. E quando faltam cerca de 50 metros para a meta Paulo Ferreira, que seguia em terceiro, explode numa arrancada imparável e passa os dois franceses. 'A margem com que eu ganhei foi suficiente para ele [o segundo] baixar os braços antes de cortar a meta. Não teve hipótese!'

Correio da Manhã

Para a posteridade ficou a Classificação da Etapa:

  • 1º Paulo Ferreira - Sporting - 4h 49' 45 seg à média de 42, 864 Km/h
  • 2º Vincent Barteau - Renault Elf - mt
  • 3º Maurice Le Guilloux - Vie Claire - a 1 seg
  • 4º Bernard Vallet - Vie Claire - a 17' 41 seg
  • 5º Eddy Planckaert - Panasonic - a 17' 42 seg
  • Pelotão 152 unidades - a 17' 42 seg
  • Retardatários 10 unidades - a + 18'07 seg

Na Etapa desistiu um corredor, ficando o pelotão com 167 ciclistas.

Fruto da vitória e do tempo conquistado, Paulo Ferreira passou a ser 3º classificado da geral, posição que ocupou durante mais 5 etapas.

No final da prova, apenas 9 das 17 equipas lograram vencer etapas e o Sporting foi uma delas, facto nunca mais repetido pelo ciclismo nacional.

O desejo expresso por todos à partida tinha sido concretizado!

E o Sporting tinha realizado uma das suas maiores proezas desportivas!