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− | O ano de 1938 ficou marcado por quatro acontecimentos com relevância histórica para o futebol português: as comemorações dos cinquenta anos da introdução em Portugal (que partiram do pressuposto de que o futebol foi introduzido no nosso país no eixo Cascais-Lisboa em 1888, desconsiderando as reivindicações do Funchal e de Lagos quanto a serem o berço da modalidade em Portugal), com direito ao Primeiro Congresso Nacional de Futebol), o desafio aberto de três jogadores do Belenenses ao regime, ao recusarem-se a fazer a “saudação romana” antes de um jogo entre Portugal e a selecção que representava a parte da Espanha sob o domínio dos nacionalistas (ainda durante a Guerra Civil), o facto de se ter disputado a última final de um Campeonato de Portugal, pois a partir de 1938/39 essa competição foi substituída pela Taça de Portugal, e a circunstância de 1937/38 ter sido a época em que se estreou nas competições nacionais Fernando [[Peyroteo]] destinado a tornar-se o maior goleador português de todos os tempos. Já nessa época [[Peyroteo]] deu um vislumbre das suas capacidades, ao marcar setenta e um golos, em jogos oficiais e particulares.
| + | [[Imagem:1938.jpg|thumb|right|Plantel da época 37-38|200 px]] |
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− | [[Peyroteo]], recém-chegado de Angola, sua terra natal, foi levado à sede do Sporting então instalada no Palácio Foz, em plena Praça dos Restauradores em Lisboa, palco de intensa vida social e não gostou do que viu. Diria mais tarde que “como bom desportista, sempre evitar permanecer em salões onde há perfumes ricos, raparigas interessantes, fumo de tabaco e sons”. Preferia, de longe, o campo de jogo. Chegou a Lisboa a 26 de Junho de 1937 e estreou-se num dérbi contra o Benfica, em 12 de Outubro, marcando por duas vezes e sendo determinante na vitória sportinguista por 5-3.
| + | O ano de 1938 ficou marcado por quatro acontecimentos com relevância histórica para o futebol português: as comemorações dos cinquenta anos da introdução da modalidade em Portugal (que partiram do pressuposto de que o futebol foi introduzido no nosso país no eixo Cascais-Lisboa em 1888, desconsiderando as reivindicações do Funchal e de Lagos quanto a serem o berço da modalidade em Portugal), com direito ao Primeiro Congresso Nacional de Futebol, o desafio aberto de três jogadores do Belenenses ao regime, ao recusarem-se a fazer a “saudação romana” antes de um jogo entre Portugal e a seleção que representava a parte da Espanha sob o domínio dos nacionalistas (ainda durante a Guerra Civil), o facto de se ter disputado a última final de um Campeonato de Portugal, pois a partir de [[1938/39]] essa competição foi substituída pela Taça de Portugal, e a circunstância de [[1937/38]] ter sido a época em que se estreou nas competições nacionais [[Fernando Peyroteo|Peyroteo]] destinado a tornar-se o maior goleador português de todos os tempos. Já nessa época [[Fernando Peyroteo|Peyroteo]] deu um vislumbre das suas capacidades, ao marcar 71 golos, em 38 jogos oficiais e particulares. |
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− | Em 1937/38 Sporting chegou à final do Campeonato de Portugal pela sexta vez consecutiva, um recorde que ficou para sempre imbatível, tendo amealhado três títulos nessas seis finais. A caminho do jogo decisivo começou por eliminar o Marinhense, tendo acabado com quaisquer veleidades que a equipa do centro do país pudesse ter de se transformar num “tomba-gigantes” logo no jogo da primeira mão, na Marinha Grande. O Sporting triunfou por 13-1, com três golos de [[Pireza]], dois de [[Mourão]], dois de Daniel e seis de [[Peyroteo]]. Perante tal vantagem, a equipa leonina encarou a segunda mão, no Lumiar, com evidente descontracção, tendo-se limitado a vencer pela margem mínima (4-3).
| + | [[Fernando Peyroteo|Peyroteo]], recém-chegado de Angola, sua terra natal, foi levado à sede do Sporting então instalada no Palácio Foz, em plena Praça dos Restauradores em Lisboa, palco de intensa vida social e não gostou do que viu. Diria mais tarde que “como bom desportista, sempre evitar permanecer em salões onde há perfumes ricos, raparigas interessantes, fumo de tabaco e sons”. Preferia, de longe, o campo de jogo. Chegou a Lisboa a 26 de Junho de 1937 e estreou-se num dérbi contra o Benfica, em 12 de Outubro, marcando por duas vezes e sendo determinante na vitória sportinguista por 5-3. |
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− | A eliminatória seguinte (quartos de final) foi a única em que o Sporting se deparou com dificuldades consideráveis para afastar o seu opositor. Batido pelo Belenenses fora por 4-2, conseguiu dar a volta na segunda mão, vencendo por 3-0 e apurando-se para as meias-finais por apenas um golo de diferença. Seguiu-se o Marítimo, que contava com um Campeonato de Portugal no seu palmarés e que foi vencido no Lumiar por 4-1. A segunda mão não se realizou no Funchal, porventura por aquela cidade ser considerada demasiado longínqua e não haver igualdade de tratamento entre clubes do continente e das ilhas, mas sim em Lisboa, no Estádio da Tapadinha, pertencente na altura ao Carcavelinhos. O Sporting venceu por 6-0 e apurou-se para a final. Com 32 golos marcados em seis jogos, o que dá uma média de cinco golos e um terço por jogo.
| + | Em [[1937/38]] o Sporting chegou à final do Campeonato de Portugal pela sexta vez consecutiva, um recorde que ficou para sempre imbatível, tendo amealhado três títulos nessas seis finais. A caminho do jogo decisivo começou por eliminar o Marinhense, tendo acabado com quaisquer veleidades que a equipa do centro do país pudesse ter de se transformar num “tomba-gigantes” logo no jogo da primeira mão, na Marinha Grande. O Sporting triunfou por 13-1, com 3 golos de [[Pedro Pireza|Pireza]], 2 de [[Adolfo Mourão]], 2 de [[Daniel Duarte Silva|Daniel]] e 6 de [[Fernando Peyroteo|Peyroteo]]. Perante tal vantagem, a equipa leonina encarou a segunda mão, no Lumiar, com evidente descontração, tendo-se limitado a vencer pela margem mínima (4-3). |
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− | O outro finalista veio a ser o eterno rival Benfica, que se apurou após superar o Porto nas meias-finais. Batidos por 4-2 no Norte, os encarnados esmagaram o Porto na segunda mão por 7-0. Garantiu-se assim que haveria um dérbi na última final de um Campeonato de Portugal. E, para o Sporting, proporcionava-se a desforra da derrota (1-2) sofrida perante o Benfica na final de 1934/35, oportunidade que não se repetiria e que, por isso, tinha necessariamente que ser aproveitada. O jogo foi disputado no Lumiar, por acordo entre os dois clubes. | + | A eliminatória seguinte (quartos de final) foi a única em que o Sporting se deparou com dificuldades consideráveis para afastar o seu opositor. Batido pelo Belenenses fora por 4-2, conseguiu dar a volta na segunda mão, vencendo por 3-0 e apurando-se para as meias-finais por apenas um golo de diferença. Seguiu-se o Marítimo, que contava com um Campeonato de Portugal no seu palmarés e que foi vencido no Lumiar por 4-1. A segunda mão não se realizou no Funchal, porventura por aquela cidade ser considerada demasiado longínqua e não haver igualdade de tratamento entre clubes do continente e das ilhas, mas sim em Lisboa, no Estádio da Tapadinha, pertencente na altura ao Carcavelinhos. O Sporting venceu por 6-0 e apurou-se para a final. Com 32 golos marcados em seis jogos, o que dá uma média de 5,3 golos por jogo. |
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| + | O outro finalista veio a ser o eterno rival Benfica, que se apurou após superar o Porto nas meias-finais. Batidos por 4-2 no Norte, os encarnados esmagaram o Porto na segunda mão por 7-0. Garantiu-se assim que haveria um dérbi na última final de um Campeonato de Portugal. E, para o Sporting, proporcionava-se a desforra da derrota (1-2) sofrida perante o Benfica na final de 1934/35, oportunidade que não se repetiria e que, por isso, tinha necessariamente que ser aproveitada. |
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| O treinador do Sporting à data era o húngaro [[Joseph Szabo]], que na antevéspera do jogo fez saber aos seus atletas o que pretendia deles. Na sexta-feira haveria banho quente e massagens. No sábado à tarde, lição teórico-táctica na sede do Sporting, ministrada pelo método preferido do treinador, ou seja, com um tabuleiro a substituir o relvado e bonecos em lugar dos jogadores (este método era revolucionário para a época e Szabo chegou mesmo a dar as suas lições a atletas de outros clubes, nomeadamente do Casa Pia AC) e sobretudo nada de namoros. Quanto aos jogadores casados, que chegassem a casa na sexta-feira, discutissem com a mulher, dissessem que a sopa estava “uma sucata”, se deitassem de costas voltadas para a legítima esposa e só fizessem as pazes na segunda-feira, após o jogo. Para Szabo, digno representante da “Escola do Danúbio”, que reunia treinadores austríacos e húngaros que estavam na vanguarda da Europa continental, nada, mas mesmo nada, poderia perturbar a concentração dos jogadores em vésperas de jogo decisivo. | | O treinador do Sporting à data era o húngaro [[Joseph Szabo]], que na antevéspera do jogo fez saber aos seus atletas o que pretendia deles. Na sexta-feira haveria banho quente e massagens. No sábado à tarde, lição teórico-táctica na sede do Sporting, ministrada pelo método preferido do treinador, ou seja, com um tabuleiro a substituir o relvado e bonecos em lugar dos jogadores (este método era revolucionário para a época e Szabo chegou mesmo a dar as suas lições a atletas de outros clubes, nomeadamente do Casa Pia AC) e sobretudo nada de namoros. Quanto aos jogadores casados, que chegassem a casa na sexta-feira, discutissem com a mulher, dissessem que a sopa estava “uma sucata”, se deitassem de costas voltadas para a legítima esposa e só fizessem as pazes na segunda-feira, após o jogo. Para Szabo, digno representante da “Escola do Danúbio”, que reunia treinadores austríacos e húngaros que estavam na vanguarda da Europa continental, nada, mas mesmo nada, poderia perturbar a concentração dos jogadores em vésperas de jogo decisivo. |
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− | A final foi disputada no dia 26 de Junho de 1938, sob a arbitragem de Abel Ferreira. O Sporting alinhou com João [[Azevedo]], João [[Jurado]] e [[Joaquim Serrano]]; [[Rui Araújo]], Aníbal [[Paciência]] e [[Manecas]]; Adolfo [[Mourão]], Manuel [[Soeiro]], Fernando [[Peyroteo]], Pedro [[Pireza]] e [[João Cruz]]. O Benfica, por sua vez, fez entrar em campo Augusto Amaro, Vieira e Gustavo Teixeira; João Correia, Francisco Albano e Gaspar Pinto; Domingos Lopes, Feliciano Barbosa, Espírito Santo, Luís Xavier e Alfredo [[Valadas]]. As crónicas da época destacaram a arbitragem sem mácula e o comportamento irrepreensível do público, apesar de se tratar de jogo disputado entre clubes rivais, assinalando que, possivelmente, o segundo seria consequência da primeira. | + | A final foi disputada no dia 26 de Junho de 1938, no Lumiar, por acordo entre os dois clubes, sob a arbitragem de Abel Ferreira. O Sporting alinhou com [[João Azevedo]], [[João Jurado]] e [[Joaquim Serrano]]; [[Rui Araújo]], [[Aníbal Paciência]] e [[Manecas]]; [[Adolfo Mourão]], [[Manuel Soeiro Vasques|Soeiro]], [[Fernando Peyroteo|Peyroteo]], [[Pedro Pireza|Pireza]] e [[João Cruz]]. O Benfica, por sua vez, fez entrar em campo Augusto Amaro, Vieira e Gustavo Teixeira; João Correia, Francisco Albano e Gaspar Pinto; Domingos Lopes, Feliciano Barbosa, Espírito Santo, Luís Xavier e [[Alfredo Valadas]]. As crónicas da época destacaram a arbitragem sem mácula e o comportamento irrepreensível do público, apesar de se tratar de jogo disputado entre clubes rivais, assinalando que, possivelmente, o segundo seria consequência da primeira. |
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| + | Os pupilos de Szabo terão estado com atenção na lição teórico-táctica e terão cumprido as suas restantes indicações, pois o Sporting foi superior do princípio ao final do jogo, facto que não deixou de ser referido pela imprensa. Bastaram 15 minutos para que [[Manuel Soeiro Vasques|Soeiro]] e [[Adolfo Mourão]] pusessem o Sporting a vencer por 2-0 e a partir daí tudo se resumiu à gestão do resultado. Diz-se que, para além da grande exibição do Sporting, o Benfica não conseguiu reagir porque o vento lhe era adverso na primeira parte. No entanto, no segundo tempo o Sporting jogou contra o vento e nem por isso deixou de controlar a partida. |
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| + | Já na segunda parte, [[Manuel Soeiro Vasques|Soeiro]] bisaria, antes de [[Alfredo Valadas]] marcar o golo de honra do Benfica, na transformação de uma grande penalidade assinalada após mão de [[Aníbal Paciência]]. Mesmo sem golos de [[Fernando Peyroteo|Peyroteo]], o Sporting conseguira desforrar-se da derrota de 1935, vencendo o Benfica por 3-1 e sagrando-se Campeão de Portugal pela quarta vez. Encerradas as contas desta competição, Sporting e Porto ficaram com quatro títulos cada um, Belenenses e Benfica com três, Carcavelinhos, Marítimo e Olhanense com um. |
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| + | No final do jogo foi entregue ao Benfica o troféu correspondente à vitória no Campeonato da 1ª Liga, mas quem fez a festa foram os Sportinguistas com a apoteose a acontecer quando [[Adolfo Mourão]] subiu à tribuna para receber a taça da principal competição da época, que até aí correspondia ao título de Campeão de Portugal. |
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| + | O Campeonato de Portugal de 1937/38 foi o primeiro troféu nacional conquistado pelo Sporting com um dos [[Cinco Violinos]] em campo, [[Fernando Peyroteo|Peyroteo]], o que mais cedo chegou ao Lumiar. Começara a transição da linha avançada dos anos trinta, onde pontificavam jogadores como [[João Cruz]], [[Adolfo Mourão]], [[Manuel Soeiro Vasques|Soeiro]] e [[Pedro Pireza|Pireza]], ambos oriundos do Barreiro, para a era dos cinco violinos, que chegaria na segunda metade dos anos quarenta, e que incluiria [[Manuel Vasques|Vasques]], sobrinho de [[Manuel Soeiro Vasques|Soeiro]] e também ele barreirense. |
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| + | ===Ficha do Jogo=== |
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− | Os pupilos de Szabo terão estado com atenção na lição teórico-táctica e terão cumprido as suas restantes indicações, pois o Sporting foi superior do princípio ao final do jogo, facto que não deixou de ser referido pela imprensa. Bastaram quinze minutos para que [[Soeiro]] e [[Mourão]] pusessem o Sporting a vencer por 2-0 e a partir daí tudo se resumiu à gestão do resultado. Diz-se que, para além da grande exibição do Sporting, o Benfica não conseguiu reagir porque o vento lhe era adverso na primeira parte. No entanto, no segundo tempo o Sporting jogou contra o vento e nem por isso deixou de controlar a partida.
| + | [[1938-06-26 SPORTING – Benfica]] |
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− | Já na segunda parte, [[Soeiro]] bisaria, antes de [[Valadas]] marcar o golo de honra do Benfica, na transformação de uma grande penalidade assinalada após mão de Aníbal [[Paciência]]. Mesmo sem golos de Fernando [[Peyroteo]], o Sporting conseguira desforrar-se da derrota de 1935, vencendo o Benfica por 3-1 e sagrando-se Campeão de Portugal pela quarta vez. Encerradas as contas desta competição, Sporting e Porto ficaram com quatro títulos cada um, Belenenses e Benfica com três, Carcavelinhos, Marítimo e Olhanense com um.
| + | ===A Imprensa=== |
| + | [[Imagem:Jornal Os Sports de 27 Junho 1938.jpg]] |
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− | O Campeonato de Portugal de 1937/38 foi o primeiro troféu nacional conquistado pelo Sporting com um dos “cinco violinos” em campo, [[Peyroteo]], o que mais cedo chegou ao Lumiar. Começara a transição da linha avançada dos anos trinta, onde pontificavam jogadores como [[João Cruz]], [[Mourão]], Manuel [[Soeiro]] e Pedro [[Pireza]], ambos oriundos do Barreiro, para a era dos cinco violinos, que chegaria na segunda metade dos anos quarenta, e que incluiria Manuel [[Vasques]], sobrinho de [[Soeiro]] e também ele barreirense.
| + | [[Ficheiro:Diário de Lisboa 26JUN1938 (1).png]] |
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− | Ver também, ficha do jogo: [[1938-06-26 SPORTING – Benfica]]
| + | [[Ficheiro:Diário de Lisboa 26JUN1938 (2).png]] |
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| --[[Usuário:Pireza|Pireza]] 19h07min de 8 de Outubro de 2008 (WEST) | | --[[Usuário:Pireza|Pireza]] 19h07min de 8 de Outubro de 2008 (WEST) |
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− | [[Categoria:Momentos Desportivos]] | + | [[Categoria:Momentos Desportivos do Futebol]] |
Edição atual desde as 10h54min de 5 de maio de 2024
O ano de 1938 ficou marcado por quatro acontecimentos com relevância histórica para o futebol português: as comemorações dos cinquenta anos da introdução da modalidade em Portugal (que partiram do pressuposto de que o futebol foi introduzido no nosso país no eixo Cascais-Lisboa em 1888, desconsiderando as reivindicações do Funchal e de Lagos quanto a serem o berço da modalidade em Portugal), com direito ao Primeiro Congresso Nacional de Futebol, o desafio aberto de três jogadores do Belenenses ao regime, ao recusarem-se a fazer a “saudação romana” antes de um jogo entre Portugal e a seleção que representava a parte da Espanha sob o domínio dos nacionalistas (ainda durante a Guerra Civil), o facto de se ter disputado a última final de um Campeonato de Portugal, pois a partir de 1938/39 essa competição foi substituída pela Taça de Portugal, e a circunstância de 1937/38 ter sido a época em que se estreou nas competições nacionais Peyroteo destinado a tornar-se o maior goleador português de todos os tempos. Já nessa época Peyroteo deu um vislumbre das suas capacidades, ao marcar 71 golos, em 38 jogos oficiais e particulares.
Peyroteo, recém-chegado de Angola, sua terra natal, foi levado à sede do Sporting então instalada no Palácio Foz, em plena Praça dos Restauradores em Lisboa, palco de intensa vida social e não gostou do que viu. Diria mais tarde que “como bom desportista, sempre evitar permanecer em salões onde há perfumes ricos, raparigas interessantes, fumo de tabaco e sons”. Preferia, de longe, o campo de jogo. Chegou a Lisboa a 26 de Junho de 1937 e estreou-se num dérbi contra o Benfica, em 12 de Outubro, marcando por duas vezes e sendo determinante na vitória sportinguista por 5-3.
Em 1937/38 o Sporting chegou à final do Campeonato de Portugal pela sexta vez consecutiva, um recorde que ficou para sempre imbatível, tendo amealhado três títulos nessas seis finais. A caminho do jogo decisivo começou por eliminar o Marinhense, tendo acabado com quaisquer veleidades que a equipa do centro do país pudesse ter de se transformar num “tomba-gigantes” logo no jogo da primeira mão, na Marinha Grande. O Sporting triunfou por 13-1, com 3 golos de Pireza, 2 de Adolfo Mourão, 2 de Daniel e 6 de Peyroteo. Perante tal vantagem, a equipa leonina encarou a segunda mão, no Lumiar, com evidente descontração, tendo-se limitado a vencer pela margem mínima (4-3).
A eliminatória seguinte (quartos de final) foi a única em que o Sporting se deparou com dificuldades consideráveis para afastar o seu opositor. Batido pelo Belenenses fora por 4-2, conseguiu dar a volta na segunda mão, vencendo por 3-0 e apurando-se para as meias-finais por apenas um golo de diferença. Seguiu-se o Marítimo, que contava com um Campeonato de Portugal no seu palmarés e que foi vencido no Lumiar por 4-1. A segunda mão não se realizou no Funchal, porventura por aquela cidade ser considerada demasiado longínqua e não haver igualdade de tratamento entre clubes do continente e das ilhas, mas sim em Lisboa, no Estádio da Tapadinha, pertencente na altura ao Carcavelinhos. O Sporting venceu por 6-0 e apurou-se para a final. Com 32 golos marcados em seis jogos, o que dá uma média de 5,3 golos por jogo.
O outro finalista veio a ser o eterno rival Benfica, que se apurou após superar o Porto nas meias-finais. Batidos por 4-2 no Norte, os encarnados esmagaram o Porto na segunda mão por 7-0. Garantiu-se assim que haveria um dérbi na última final de um Campeonato de Portugal. E, para o Sporting, proporcionava-se a desforra da derrota (1-2) sofrida perante o Benfica na final de 1934/35, oportunidade que não se repetiria e que, por isso, tinha necessariamente que ser aproveitada.
O treinador do Sporting à data era o húngaro Joseph Szabo, que na antevéspera do jogo fez saber aos seus atletas o que pretendia deles. Na sexta-feira haveria banho quente e massagens. No sábado à tarde, lição teórico-táctica na sede do Sporting, ministrada pelo método preferido do treinador, ou seja, com um tabuleiro a substituir o relvado e bonecos em lugar dos jogadores (este método era revolucionário para a época e Szabo chegou mesmo a dar as suas lições a atletas de outros clubes, nomeadamente do Casa Pia AC) e sobretudo nada de namoros. Quanto aos jogadores casados, que chegassem a casa na sexta-feira, discutissem com a mulher, dissessem que a sopa estava “uma sucata”, se deitassem de costas voltadas para a legítima esposa e só fizessem as pazes na segunda-feira, após o jogo. Para Szabo, digno representante da “Escola do Danúbio”, que reunia treinadores austríacos e húngaros que estavam na vanguarda da Europa continental, nada, mas mesmo nada, poderia perturbar a concentração dos jogadores em vésperas de jogo decisivo.
A final foi disputada no dia 26 de Junho de 1938, no Lumiar, por acordo entre os dois clubes, sob a arbitragem de Abel Ferreira. O Sporting alinhou com João Azevedo, João Jurado e Joaquim Serrano; Rui Araújo, Aníbal Paciência e Manecas; Adolfo Mourão, Soeiro, Peyroteo, Pireza e João Cruz. O Benfica, por sua vez, fez entrar em campo Augusto Amaro, Vieira e Gustavo Teixeira; João Correia, Francisco Albano e Gaspar Pinto; Domingos Lopes, Feliciano Barbosa, Espírito Santo, Luís Xavier e Alfredo Valadas. As crónicas da época destacaram a arbitragem sem mácula e o comportamento irrepreensível do público, apesar de se tratar de jogo disputado entre clubes rivais, assinalando que, possivelmente, o segundo seria consequência da primeira.
Os pupilos de Szabo terão estado com atenção na lição teórico-táctica e terão cumprido as suas restantes indicações, pois o Sporting foi superior do princípio ao final do jogo, facto que não deixou de ser referido pela imprensa. Bastaram 15 minutos para que Soeiro e Adolfo Mourão pusessem o Sporting a vencer por 2-0 e a partir daí tudo se resumiu à gestão do resultado. Diz-se que, para além da grande exibição do Sporting, o Benfica não conseguiu reagir porque o vento lhe era adverso na primeira parte. No entanto, no segundo tempo o Sporting jogou contra o vento e nem por isso deixou de controlar a partida.
Já na segunda parte, Soeiro bisaria, antes de Alfredo Valadas marcar o golo de honra do Benfica, na transformação de uma grande penalidade assinalada após mão de Aníbal Paciência. Mesmo sem golos de Peyroteo, o Sporting conseguira desforrar-se da derrota de 1935, vencendo o Benfica por 3-1 e sagrando-se Campeão de Portugal pela quarta vez. Encerradas as contas desta competição, Sporting e Porto ficaram com quatro títulos cada um, Belenenses e Benfica com três, Carcavelinhos, Marítimo e Olhanense com um.
No final do jogo foi entregue ao Benfica o troféu correspondente à vitória no Campeonato da 1ª Liga, mas quem fez a festa foram os Sportinguistas com a apoteose a acontecer quando Adolfo Mourão subiu à tribuna para receber a taça da principal competição da época, que até aí correspondia ao título de Campeão de Portugal.
O Campeonato de Portugal de 1937/38 foi o primeiro troféu nacional conquistado pelo Sporting com um dos Cinco Violinos em campo, Peyroteo, o que mais cedo chegou ao Lumiar. Começara a transição da linha avançada dos anos trinta, onde pontificavam jogadores como João Cruz, Adolfo Mourão, Soeiro e Pireza, ambos oriundos do Barreiro, para a era dos cinco violinos, que chegaria na segunda metade dos anos quarenta, e que incluiria Vasques, sobrinho de Soeiro e também ele barreirense.
Ficha do Jogo
1938-06-26 SPORTING – Benfica
A Imprensa
--Pireza 19h07min de 8 de Outubro de 2008 (WEST)