Não possui permissão para editar esta página, pelo seguinte motivo: A operação solicitada está limitada a utilizadores do grupo: Utilizadores. Pode ver e copiar o conteúdo desta página. FRANCISCO STROMP E JOÃO ROCHA Precisamente no dia em que o Sporting festejava o 24.º aniversário da sua fundação morreu, em circunstâncias dramáticas, aquele que viria a ficar para todo o sempre como o símbolo do Clube, o paradigma das virtudes éticas e desportivas para quantos alguma vez ostentaram o leão rampante quer como atletas ou dirigentes, quer como simples associados ou meros simpatizantes. Falo, evidentemente, de Francisco Stromp. E, oito dias volvidos – ou seja, no oitavário da sua morte – quando o Clube carpia, coberto de crepes e lavado em lágrimas, a mágoa do trágico desaparecimento daquele seu dilecto filho, quis o destino que viesse ao mundo, algures no distrito de Setúbal, outro leão de raça que de 1973 a 1986 – pela sua inteligência, sagacidade, pertinácia, abnegação e espírito empreendedor – se impôs como o maior de todos os grandes presidentes que o Sporting teve como pioneiro timoneiro ao longo do seu incomparável historial. Refiro-me, bem entendido, a João Rocha. Com ele tive o prazer e a honra de colaborar do primeiro ao último dia do seu consulado e dele guardo, como Sportinguista e como Amigo, as mais gratas e inesquecíveis recordações. Testemunhei, desde logo, a sua visão rasgada e realista e o seu grandioso sonho de inovação e de reestruturação dela emergente – ingloriamente destruído pelo “25 de Abril” e, sobretudo, pelo sinistro PREC - que, a ter podido concretizar-se, teria feito to Sporting, quiçá, o maior e mais rico clube do mundo. Assisti, boquiaberto, ao estoicismo com que ele apanhou os cacos em que a revolução transformou esse sonho. Acompanhei, empolgado, a força interior e a coragem com que procurou refazer ou adaptar à “nova ordem” os seus projectos que, aliás, haviam arrancado já com a constituição da Sociedade de Construções e Planeamento. Subindo e descendo numa labuta incessante – e a mor das vezes infrutífera – as escadarias dos Ministérios, das Secretarias de Estado, dos Chefes de Gabinetes, das Direcções Gerais, do Município, do Metropolitano, dum ror de entidades cujos titulares eram constantemente substituídos e aos quais havia sempre que contar de novo a “história” toda desde o princípio. Admirei o ânimo com que redobrava de esforços perante as incompreensões, as injustiças e os insucessos no decorrer da mais difícil e ingrata conjuntura política, social e económica vivida pelo País desde a fundação do Sporting. Vi como em todas as circunstâncias, generosamente, colocava sempre as responsabilidades do seu espinhoso cargo no Clube à frente dos seus interesses pessoais e profissionais quantas vezes com o sacrifício da sua vida familiar e até da sua saúde. E, numa época em que se multiplicavam as falências e proliferavam o desemprego e os salários em atraso, João Rocha conseguiu manter sempre em dia - ainda que muitas vezes à conta da sua bolsa – os ordenados, os prémios e os subsídios de todos os empregados e atletas do Clube. Ele que chegou ao Sporting com a agremiação quase na bancarrota e sem nada ter prometido, quando renunciou à presidência deixou o Clube com mais de 100.000 sócios (eram 25.000 quando tomou posse pela primeira vez), com cerca de 15.000 atletas (contra 1.100 em 1973), 200.000 contos em caixa, um resultado líquido de 750.000 contos no seu último exercício e um património que rondava os 30 milhões de contos. E – mais importante ainda! – restituiu ao Clube a sua credibilidade e prestígio. Do ponto de vista desportivo também foram notáveis as gerências de João Rocha, que fez do Clube o Campeão do ecletismo o que lhe permitiu, inclusivamente, ganhar – em 1982, numa iniciativa patrocinada pelo jornal “A Bola” – o valiosíssimo troféu “Stromp” destinado ao clube que na época de 1981/1982 conseguisse a melhor classificação no conjunto de todas as modalidades desportivas praticadas em Portugal. Sem dúvida a maior força desportiva do País, o Sporting arrecadou nos mandatos de João Rocha cerca de 4.000 troféus e 1.410 títulos e recordes (entre regionais, nacionais, europeus, mundiais e olímpicos) além de 72 “Taças de Portugal”. Mesmo no futebol sénior – que os detractores de João Rocha apontam como o seu calcanhar de Aquiles… - o Sporting averbou 8 títulos nesses 13 anos. Do ponto de vista social foi notável a galvanização da nossa juventude para a saudável prática do desporto, sobretudo no que concerne à Ginástica, à Natação, ao “Taekwon-do” e aos torneios de futebol infantil promovidos pelo Sporting nas férias do Natal e da Páscoa, que chegaram a reunir 150 equipas numa “onda verde” jamais vista em Portugal. E sublinhe-se que todos os inscritos eram previamente submetidos, em Alvalade, a rigorosos exames médicos que, aliás, detectaram alguns problemas de saúde até então ignorados pelos pais dos jovens candidatos a participantes. De salientar ainda que, nesses 13 anos, o Sporting chegou a fornecer anualmente 300.000 refeições a muitos dos seus atletas, logicamente aos mais carenciados. Mas, para lograr todos estes êxitos desportivos e financeiros, foi indispensável um notável esforço de investimento (mais de um milhão de contos) em infraestruturas de que o Clube não dispunha e de que há tantos anos necessitava. Assim, foram adquiridos terrenos e obtida autorização para diversas construções e a colectividade foi enriquecida com obras como um pavilhão polivalente, dois pavilhões de treinos, nove ginários para a Ginástica, dois para o “Taekwon-do” e um para a Luta e Halterofilismo, uma sala de Boxe, outra para os jogos de Ténis-de-mesa, mais duas para a Loja Verde, um ginásio de recuperação, novas caldeiras para fornecimento de água quente a todos os balneários, vedação dos terrenos do Sporting, cobertura, aquecimento e balneários da piscina municipal do Campo Grande (uma das três que o Sporting tinha permanentemente alugadas), centros de estágio para o ciclismo, sala de convício “Joaquim Agostinho”, oito salas de reabilitação, remodelação da secretaria e informatização do Clube, remodelação das instalações de todas as secções desportivas, construção de uma pista de tartan para o atletismo, construção da nova bancada (um sonho de 30 anos!) e seus aproveitamentos com quatro pavilhões, três arenas (uma das quais destinadas a pista de gelo) 10 ginásios amplos e 20 mais pequenos e 30 balneários. No Estádio foram ainda introduzidos vários melhoramentos como a construção da tribuna de honra, vedação e jardim da nova bancada, nova aparelhagem sonora, nova instalação eléctrica, novas torres de iluminação, construção de mais de 6.000 lugares nas bancadas de topo, drenagem do relvado principal e novo arrelvamento, dois tanques de água com capacidade para 200.000 litros cada, vedação do interior do Estádio, portas de aço nos acessos ao Estádio, uma sala de aquecimento para o Futebol, um centro de estágio também para o Futebol, novas salas para os departamentos sénior e júnior do Futebol, remodelação dos serviços clínicos e novo posto médico com nova e sofisticada aparelhagem. Procedeu-se ainda à remoção de cerca de 300.000 m3 de terras, construção e arrelvamento de dois novos campos de treino para o Futebol, abertura de dois furos de água (um no estádio e outro nos novos relvados), irrigação automática computorizada dos três relvados, construção e equipamento da sala de Bingo, abertura de 30 novas bilheteiras, constituição de um departamento de Publicidade, aquisição de um “Camião Verde” destinado à promoção do Sporting e dos seus símbolos nas localidades onde se deslocavam as principais equipas do Clube, etc. Cansativo mas não exaustivo este balanço da obra de João Rocha ao serviço do Sporting e do Desporto Nacional. Obra que não se esgota na fria eloquência destes números. Não podemos esquecer, por exemplo, que foi ele a autêntica e poderosa locomotiva na solução de muitos e graves problemas que desde há uma série de anos vinham afectando o Futebol português e que, mercê da sua esclarecida e profícua acção, puderam ser resolvidos. Refiro-me, concretamente, à concessão do Bingo aos clubes, à consecução do subsídios do Totobola e do Totoloto também para os clubes e ainda a isenção do pagamento do serviço de policiamento nos campos de Futebol. No dizer de Valentim Loureiro: “não fora essa sua persistente acção e os clubes portugueses seriam hoje absolutamente ignoráveis”. Muitas outras grandiosas empresas marcaram a inesquecível passagem de João Rocha pela presidência do Sporting: desde logo, recordo o envio de grandiosas embaixadas “leoninas” à China e a Angola, que constituíram outros tantos êxitos e que elevaram o prestígio do Sporting, do Desporto Nacional e, sobretudo, do País. Lembro outra empresa tida de antemão como impossível caso para João Rocha houvesse impossíveis. Sabido como é a dificuldade de as equipas de qualquer parte do mundo conseguirem uma presença numa prestigiosa “Volta à França” em bicicleta, foi com espanto geral que, principalmente a Europa, viu na maior prova de ciclismo mundial as camisolas “verde-brancas” comandadas pelo malogrado e tão saudoso Joaquim Agostinho. Aconteceu na funérea era do PREC quando os nossos emigrantes haviam fechado a torneira das remessas de dinheiro para Portugal. João Rocha conseguiu o apoio do Banco Pinto & Sotto Mayor e mandou fazer um milhão de bandeiras nacionais com publicidade no verso, àquela instituição bancária incentivando os portugueses – que acorriam em massa às bermas das estradas gaulesas prodigalizando colosso aplauso e estímulo aos ciclistas do Sporting – a retomarem o envio para o País das suas poupanças. Uma campanha que resultou em cheio. Neste valioso levantamento biográfico tão oportuno e escrupulosamente elaborado por Alfredo Farinha, o mais credível e brilhante jornalista desportivo que me foi dado ler e enlevar ao longo de quase cinco décadas, encontrará o leitor os traços perfeitos que lhe permitirão conhecer melhor e admirar a personalidade de João Rocha. Quanto a mim, cingi-me a evocar, em termos quase meramente estatísticos, a sua obra enquanto presidente do Sporting. Antes de terminar estas linhas, porém, faço questão de lembrar algumas passagens do discurso proferido por João amado de Freitas na Assembleia Geral em que foi eleito para suceder, precisamente, a João Rocha. Ao analisar o Relatório e Contas do último exercício presidido pelo seu antecessor disse: “são invulgares os resultados obtidos, sem paralelo no contexto desportivo português. Fortaleceu-se de forma sensível o património do Clube, na perspectiva de responder da melhor forma possível às exigências crescentes duma massa associativa e simpatizante de dimensão ímpar” (…) “Atingiu-se um resultado corrente do exercício da ordem dos 139.000 contos, após um reforço de amortização superior a 386.000 contos à constituição de provisões no valor de 200.000 contos” (…) “A nota alta e necessariamente significativa é a regularização das dívidas à Previdência tendo-se efectuado pagamentos no decorrer do último exercício que ascenderam a 100.000 contos e celebrado um acordo para liquidação da parte restante a longo prazo. Não é de mais salientar – é de inteira justiça – que o presidente João Rocha teve, neste aspecto, uma acção preponderante como, de resto, a teve também naquilo que respeita à prática de liquidação de tudo que eram dívidas à Banca” (…) “Colaborei durante largos anos em várias e sucessivas Direcções a que (João Rocha) presidiu” (…) “Estou, por isso, em condições de afirmar que vamos ficar em breve privados de um grande dirigente” (…) “Quero expressar a minha admiração pela sua obra e o meu profundo agradecimento como Sportinguista. Bem haja João Rocha”. E na sua primeira reunião o executivo que sucedera ao último de João Rocha, indo até ao limite máximo das suas competências na matéria, atribuiu a João Rocha a “Medalha de Mérito e Dedicação” decidindo também propor à Assembleia Geral do Clube que o ex-presidente fosse igualmente distinguido com os galardões de “Sócio de Mérito” e de “Sócio Benemérito” e deliberando ainda “homenagear” João Rocha com outras homenagens não concretizadas, que me escuso de enumerar. JOÃO XARA BRASIL Voltar para Testemunho de João Xara Brasil sobre João Rocha.