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1947/48 será para sempre lembrada como a época do "campeonato do pirulito". O "pirulito" era uma bebida gasosa cuja garrafa se fechava não com uma rolha ou uma carica, mas com um berlinde e, no final do campeonato, o mesmo seria decidido "por uma bolinha", ou seja por um golo.

O jogo que acabou por ser decisivo para a atribuição do título acabou por ser o Benfica – Sporting da 22.ª jornada, disputado em 25 de Abril de 1948 no Campo Grande, em Lisboa. O Sporting partia para esse jogo com menos dois pontos do que o seu rival e com a desvantagem acrescida de ter perdido 1-3 em casa na primeira volta. A pressão era tanta na semana que antecedeu o jogo que um dirigente do Sporting acusou Cândido de Oliveira de ser benfiquista e estar a preparar em segredo uma táctica suicida que levaria à derrota do Sporting. Isto com base no facto do técnico ter sido jogador do Benfica até 1920, ano em que deixara esse clube para ir fundar o Casa Pia A.C.

Chegado o dia do jogo, o treinador não falou destes rumores no balneário, não quis desestabilizar a equipa, pediu-lhes que jogassem o normal. O Sporting alinhou com João Azevedo, Álvaro Cardoso e Juvenal; Carlos Canário, Moreira e Veríssimo; Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano e, com tal equipa, derrotou o Benfica por 4-1, com quatro golos de Peyroteo (aos 35, 41, 58 e 69 minutos), subindo ao primeiro lugar. No meio dos festejos, Cândido de Oliveira anunciou a sua demissão. Fora ofendido, ia-se embora.

E teria mesmo saído do Sporting, não fora o dirigente difamador procurá-lo no seu local de trabalho e pedir-lhe, entre lágrimas, que reconsiderasse, oferecendo a própria demissão em troca. O técnico voltou atrás, com a condição de que o dirigente também ficasse. Diz-se que foi ele o autor da frase, relativa aos treinadores, "somos bestiais quando ganhamos e bestas quando perdemos".

O Sporting ainda perdeu um jogo, à 24.ª jornada, com o Vitória de Setúbal no Bonfim (0-1), mas respirou de alívio ao saber que no Campo Grande o Benfica fora surpreendentemente derrotado pelo Elvas. Disse-se na altura que o Benfica prometera dinheiro e um fato a cada jogador do Vitória caso conseguissem vencer o Sporting e que teve de cumprir a promessa, embora o triunfo sadino de nada lhes servisse. Findo o campeonato, Sporting e Benfica terminaram empatados em pontos, com 41 cada, mas o Sporting tinha vantagem - 5-4, um golo - no confronto directo e foi o justo campeão.

O Sporting conquistaria ainda a Taça, derrotando o Benfica nas meias finais por 3-0 e o Belenenses na final por 3-1, numa época memorável, marcada por resultados como o já referido 4-1 contra o Benfica, um 5-2 contra o F.C. Porto, com golos de Vasques (2), Peyroteo, Travassos e Albano, um 6-3 em Coimbra contra a Académica, marcando Travassos (3), Sidónio Silva (2) e Vasques, um 4-0 em Guimarães, com golos de Jesus Correia, Vasques, Travassos e Albano, um 8-1 contra o Vitória de Setúbal, jogo em que marcaram Octávio Barrosa (2), Vasques (2), Albano (2), Travassos e João Martins, um 5-0 contra o Boavista, em que houve quatro golos de Sidónio Silva e um de Jesus Correia ou mesmo um 12-0 contra o Lusitano de Vila Real de Santo António, jogo em que Peyroteo marcou cinco golos, Jesus Correia fez um hat-trick, Albano marcou dois e Vasques e Travassos marcaram um cada, numa tarde (15 de Fevereiro de 1948) memorável, em que todos os "Cinco Violinos" marcaram pelo menos um golo.

--Pireza 19h18min de 8 de Outubro de 2008 (WEST)