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Esta página é sobre o atleta Carlos Lopes. Se procura o atleta paralimpico Carlos Lopes, consulte Carlos Manuel Conceição Lopes. Se procura o jogador da Academia Carlos Lopes, consulte Carlos Bernardo Lopes.
Dados de Carlos Lopes Carlos lopesfoto.jpg Clopes4.jpg
Nome Carlos Alberto de Sousa Lopes
Nascimento terça-feira, 18 de Fevereiro de 1947
Naturalidade Vildemoinhos - Viseu - Portugal
Posição Atleta (crosse e fundo)

Carlos Lopes nasceu em Vildemoinhos no seio de uma família humilde. Era o mais velho de sete irmãos e mal acabou a escola primária teve de começar a trabalhar como servente de pedreiro. Depois foi marçano e ajudante numa ourivesaria em Viseu, até ser aceite na serralharia onde o seu pai trabalhava. Tinha na altura 16 anos e os seus sonhos eram ser serralheiro e jogar futebol no clube da terra.

Mas o Sr. António Lopes achava que ele era muito franzino para o futebol e não o deixou ir jogar para o Lusitano. Talvez tenha sido a sua sorte porque assim acabou por se dedicar ao Atletismo, o que aconteceu um pouco por acaso, quando um grupo de rapazes da terra resolveram formar uma equipa da modalidade no Lusitano Futebol Clube, depois de uma correria noturna que tinha acontecido fortuitamente no regresso de um bailarico, com Carlos a ser o primeiro a chegar a Vildemoínhos.

Para se inscrever falsificou a assinatura do pai, não fosse ele achar que também não tinha cabedal para correr. Estreou-se na São Silvestre de Viseu onde foi 2º classificado. Duas semanas depois foi Campeão Regional de Juniores em Corta Mato e a seguir foi 3º classificado no Campeonato Nacional, sendo por isso seleccionado para representar Portugal no escalão de Juniores, no Crosse das Nações de 1966, que se disputou em Rabat.

Nessa prova a imprensa nacional apontava Anacleto Pinto como um dos favoritos às medalhas, mas o melhor atleta português foi Carlos Lopes que ficou no 25º lugar. No entanto com um pouco mais de experiência poderia ter feito melhor.

Pouco depois sagrou-se Campeão Nacional de Juniores nos 3000m e no final do ano de 1966, um emissário do Sporting Clube de Portugal apareceu em Vildemoínhos para o trazer para Lisboa. Sportinguista desde sempre, ele que até gostava de dizer que era o Juan Seminário nas futeboladas em que participava por brincadeira, não hesitou em partir à aventura, para sob a orientação do Prof. Moniz Pereira se tornar no melhor atleta português de todos os tempos.

Um palmarés ímpar

A Medalha de Ouro

Ao serviço do Sporting foi 10 vezes Campeão Nacional de Corta-Mato, uma especialidade onde quando estava em forma era praticamente imbatível, e na Pista foi 5 vezes Campeão Portugal (2 nos 5000m, 2 nos 10000m e outra nos 3000m obstáculos), números estes menos impressionantes do que os do Crosse, mas que se explicam pelo facto de poucas vezes ter competido nos Campeonatos de Portugal.

Ajudou o Sporting a conquistar 7 Taças dos Campeões Europeus de Corta-Mato, competição que ganhou individualmente 3 vezes, entre muitos outros títulos nacionais e regionais que o Clube venceu com sua sempre importante participação, fosse no Corta-Mato, na Pista ou na Estrada.

Entre 1972 e 1976 melhorou 9 vezes o Recorde Nacional dos 5000m, fixando-o em 13,24,0m, retirando assim quase 30 segundos à anterior marca de Manuel de Oliveira; Entre 1971 e 1976 melhorou 7 vezes o Recorde Nacional dos 10000m, distância em que se viria a tornar Recordista da Europa, quando no dia 26 de Junho de 1982 ganhou os Bislett Games em Oslo, com o tempo de 27,24,39m.

Foi também Recordista Nacional das distâncias não olímpicas das 2 milhas (8,25,0m) e dos 3000m (7,48,8m) e dos 3000m em pista coberta com o tempo de 8,44,8m. Integrou uma equipa do Sporting constituída também por Carlos Cabral, Américo Barros e Fernando Mamede, que bateu o Recorde Nacional da estafeta dos 4x1500m, com a marca de 15,16,2m, e em 1975 numa só prova bateu os Recordes Nacionais dos 15 Km (44,41,6m), 20 Km (59,44,2m) e da hora (20158m).

Foi três vezes Campeão Mundial de Corta Mato e duas vezes vice-Campeão, sendo justamente considerado como um dos melhores atletas de sempre nesta dura variante do Atletismo, onde era praticamente o único atleta capaz de fazer frente ao domínio que começava a ser exercido pelos africanos.

Na Maratona foi Recordista da Europa, Recordista Mundial e Campeão Olímpico, sendo nesta dura prova que se tornou no primeiro português a conquistar uma Medalha de Ouro no maior evento desportivo do Mundo.

Antes já tinha conquistado uma Medalha de Prata nos 10000m dos Jogos Olímpicos de Montreal, que era a primeira da história do Atletismo português, e entre muitas outras corridas, ganhou ainda por duas vezes a clássica São Silvestre de São Paulo, no Brasil, que era considerada como a mais importante prova de estrada do mundo.

Era pois um atleta completo, daqueles que se superam nos grandes momentos, tendo apenas como ponto menos forte a sua ponta final, onde não era suficientemente rápido para discutir as provas que terminavam ao sprint, o que o fez perder ingloriamente algumas corridas, e que o obrigava a um esforço redobrado para se ver livre dos seus adversários e chegar isolado à meta.

Os principais títulos

Competição Prova Marca Época Observações
Campeonato de Portugal 5000m 15,03,0m 1968
Campeonato de Portugal 4x1500m 15,55,0m 1969
Campeonato Nacional Corta Mato 1970
Campeonato de Portugal 10000m 30,26,6m 1970 RCP
Campeonato Nacional Corta Mato 1971
Campeonato de Portugal 4x1500m 16,17,0m 1971
Campeonato Nacional Corta Mato 1972
Campeonato de Portugal 4x1500m 15,16,2m 1972 RCP - RN
Campeonato Nacional Corta Mato 1973
Campeonato de Portugal 4x1500m 15,18,02m 1973
Campeonato Nacional Corta Mato 1974
Campeonato de Portugal 3000m obstáculos 8,43,0m 1975 RCP
Taça dos Campeões Europeus 10000m 28,52,0m 1975
Campeonato Nacional Corta Mato 1976
Campeonato Mundial Corta Mato 1976
Taça dos Campeões Europeus 5000m 1976
Jogos Olímpicos 10000m 27,45,17m 1976 MP - RN
Taça dos Campeões Europeus Corta Mato 1977
Campeonato Nacional Corta Mato 1977
Campeonato Mundial Corta Mato 1977 MP
Campeonato Nacional Corta Mato 1978
Taça dos Campeões Europeus 10000m 1978
Campeonato de Portugal 10000m 28,21,0m 1978 RCP
Taça da Europa 10000m 28,11,89m 1981
Taça dos Campeões Europeus Corta Mato 1982
Campeonato Nacional Corta Mato 1982
Taça dos Campeões Europeus 5000m 1982
São Silvestre São Paulo Estrada 1983
Campeonato Mundial Corta Mato 1983 MP
Campeonato de Portugal 5000m 13,28,1m 1983 RCP
Campeonato Nacional Corta Mato 1984
Campeonato Mundial Corta Mato 1984
Jogos Olímpicos Maratona 2,09,21h 1984 MO - RO
São Silvestre São Paulo Estrada 1985
Taça dos Campeões Europeus Corta Mato 1985
Campeonato Mundial Corta Mato 1985

Legenda
MO=Medalha de Ouro; MP=Medalha de Prata; RO=Recorde Olímpico; RN=Recorde Nacional; RCP=Recorde dos Campeonatos de Portugal

Recordes

Data Recorde Prova Marca Competição
29-01-1967 Nacional 3000m (PC) 8,44,8m
08-06-1971 Nacional 10000m 29,28,0m Campeonato Regional
29-06-1972 Nacional 5000m 13,50,2m Campeonato de Espanha
05-08-1972 Nacional 5000m 13,46,8m Taça Fernando Amado
19-08-1972 Nacional 4x1500m 15,16,2m
31-08-1972 Nacional 10000m 28,53,6m Jogos Olímpicos
22-07-1973 Nacional 3000m 7,56,0m
28-07-1973 Nacional 5000m 13,42,8m Portugal-Canadá-Itália
05-08-1973 Nacional 10000m 28,37,0m Campeonato Nacional
18-08-1973 Nacional 5000m 13,41,4m
22-06-1974 Nacional 5000m 13,34,2m Campeonato Regional
19-05-1975 Nacional 5000m 13,34,2m Taça da Europa
14-06-1975 Nacional 10000m 28,30,6m Campeonato Nacional
20-08-1975 Nacional 5000m 13,33,8m Meeting de Zurique
28-08-1975 Nacional 15km 44,41,6m
28-08-1975 Nacional 20km 59,44,2m
28-08-1975 Nacional Hora 20158m
01-05-1976 Nacional 3000m 7,48,8m
21-05-1976 Nacional 5000m 13,26,8m Meeting de Colónia
29-05-1976 Nacional 10000m 27,45,71m RFA-URSS
02-06-1976 Nacional 5000m 13,24,0m
26-07-1976 Nacional 10000m 27,45,17m Jogos Olímpicos
06-08-1976 Nacional 2 milhas 8,25,0m
09-08-1976 Nacional 10000m 27,42,65m Meeting de Estocolmo
10-06-1982 Pessoal 5000m 13,21,8m Torneio Internacional de Lisboa
26-06-1982 Europeu 10000m 27,24,39m Bislett Games
09-04-1983 Europeu Maratona 2,08,39h Maratona de Roterdão
28-06-1984 Pessoal 5000m 13,16,38m Bislett Games
02-07-1984 Pessoal 10000m 27,17,48m Meeting de Estocolmo
12-08-1984 Olímpico Maratona 2,09,21h Jogos Olímpicos
20-04-1985 Mundial Maratona 2,07,12h Maratona de Roterdão

Os primeiros anos

Carlos Lopes no Crosse

Carlos Lopes ingressou no Sporting Clube de Portugal em Setembro de 1966, à sua espera tinha um emprego como serralheiro e os seus primeiros tempos em Lisboa não foram fáceis. Chegou mesmo a pensar em regressar a casa, mas o orgulho e a vontade de vencer foram mais fortes e ficou. Mais tarde, depois de ter cumprido o serviço militar obrigatório, o Presidente Brás Medeiros arranjou-lhe um lugar como continuo no Diário Popular, que era um trabalho mais leve. Foi também no Sporting que conheceu Teresa Nogueira com quem viria a casar.

Estreou-se no Grande Prémio da Parede onde ficou em 2º lugar atrás de José Lourenço. Depois ainda nessa época, portou-se bem no Corta Mato onde voltou a ser 3º no Campeonato Nacional de Juniores. Ajudou a ganhar a Estafeta Cascais-Lisboa e deu os primeiros passos na Pista, chegando mesmo a estabelecer um novo Recorde Nacional dos 3000m em Pista Coberta.

Na época seguinte ganhou o Corta Mato dos Dez, participou nas vitórias do Sporting nos Campeonatos Regional e Nacional de Crosse e na Estafeta Cascais Lisboa, e obteve o seu primeiro grande título, ao sagrar-se Campeão de Portugal nos 5000m.

Em 1970 Carlos Lopes ganhou o seu segundo Campeonato de Portugal, desta vez nos 10000m, e deu inicio ao seu reinado no Corta Mato, conquistando o primeiro dos 5 títulos consecutivos de Campeão Nacional desta especialidade, que obteve até 1974, igualando assim um feito que até aí só Manuel Dias e Manuel Faria tinham conseguido.

Nesse período melhorou por 5 vezes o Recorde Nacional dos 5000m e fez o mesmo 3 vezes nos 10000m, tornando-se no primeiro português a percorrer esta distância abaixo dos 29 minutos, o que na altura já era um bom resultado.

Em 1972 estreou-se nas Olimpíadas, participando nos Jogos de Munique, onde se classificou em 9º lugar nas eliminatórias das provas dos 5000 e 10000m, depois de no ano anterior ter estado nos Campeonatos da Europa de Helsínquia, repetindo a experiência três anos depois em Roma, em ambos os casos sem resultados dignos de relevo.

Em 1973 teve a sua primeira experiência no Campeonato do Mundo de Corta Mato, classificando-se no 24º lugar, e no ano seguinte obteve pela segunda vez um 3º lugar na famosa Corrida de São Silvestre em São Paulo, depois de ser ter estreado em 1971 com um 15º lugar.

Um atleta de nível internacional

Carlos Lopes na Pista

Só em 1975 quando já trabalhava num Banco, passou a treinar duas vezes por dia, numa altura em que o Atletismo português impulsionado por Moniz Pereira, deu os seus primeiros passos para um semi-profissionalismo.

Nessa temporada Carlos Lopes ganhou a corrida dos 10000m da 1ª edição da Taça dos Campeões Europeus de Atletismo, melhorou os seus Recordes Nacionais dos 10000 e 5000m, no caso da légua duas vezes, a última das quais no Meeting de Zurique, onde ficou em 3º lugar, mostrando estar cada vez mais próximo dos melhores atletas do mundo, e ainda teria tempo para ser Campeão de Portugal dos 3000m obstáculos, numa prova onde tentava bater o Recorde Nacional do histórico Manuel de Oliveira, um objectivo que ficou inviabilizado quando sofreu uma queda na parte final da prova, isto para além de ter batido na mesma corrida os Recordes Nacionais dos 15 e 20 Km e da hora, igualando assim um feito protagonizado por Armando Aldegalega em 1964.

A 28 de Fevereiro de 1976 sagrou-se pela primeira vez Campeão do Mundo de Corta Mato. No mesmo ano participou nos Jogos Olímpicos de Montreal no Canadá, ganhando a Medalha de Prata nos 10 mil metros, a primeira Medalha Olímpica do Atletismo português, numa prova em que foi derrotado pelo finlandês Lasse Viren, um atleta que mais tarde seria acusado de fazer transfusões de sangue para melhorar as suas prestações nas grandes provas.

Foram duas enormes proezas, mas não totalmente inesperadas. Lopes tinha começado a época a ganhar tudo o que havia para ganhar no Corta Mato, triunfando no Crosse Internacional de Chartres e no Crosse de Lazarte em San Sebastian, para depois recuperar o título de Campeão Nacional de Corta-Mato, que na ocasião era o seu sexto.

Na Pista os resultados de Carlos Lopes também foram brilhantes, começando por bater o Recorde Nacional dos 5000m, em Maio na Alemanha, tornando-se no primeiro português a percorrer a distância em menos de 13,30m, o que já era uma marca de nível internacional, para logo na semana seguinte participar como convidado num encontro entre as selecções da RFA e da URSS, onde fez a melhor marca mundial do ano nos 10000m, com o tempo de 27,45,71m, que passou a ser a 8ª melhor marca de sempre naquela distância, constituindo uma melhoria de quase 45 segundos em relação ao anterior Recorde Nacional, tornando-se assim no primeiro português a correr os 10000m em menos de 28 minutos.

Em Junho melhorou o seu Recorde dos 5000m, percorrendo a distância em 13,24,0m e nos Jogos Olímpicos estabeleceu um novo Recorde Nacional dos 10000m, que viria a melhorar duas semanas depois em Estocolmo, fazendo o tempo de 27,42,65m, que era a 6ª melhor marca mundial de sempre e o melhor tempo do ano.

No ano seguinte voltou a estar em grande no Corta Mato, revalidando o seu título de Campeão Nacional e vencendo a 1ª edição do Crosse Internacional das Amendoeiras, isto depois de ajudar o Sporting Clube de Portugal a ganhar pela primeira vez a Taça do Campeões Europeus de Corta Mato, numa prova em que também foi o vencedor individualmente. Depois foi 2º classificado no Campeonato Mundial de Corta-Mato, confirmando estar entre os melhores do mundo no Crosse.

Em 1976 recebeu a Medalha de Mérito Desportivo do Ministério da Educação.

A maldição das lesões

Com 30 anos de idade Carlos Lopes tinha chegado a um nível nunca antes atingido por um atleta português, quando a sua carreira foi interrompida por uma grave lesão no tendão de Aquiles, que o forçou a uma paragem de vários meses.

Seguiram-se algumas tentativas de regresso e outras tantas recaídas, que se transformaram numa longa travessia no deserto, durante a qual foi dado como acabado para o Atletismo.

No entanto Carlos Lopes nunca desistiu. Sofreu em silêncio com algumas desfeitas que lhe fizeram, numa altura em que Fernando Mamede se assumia como a nova grande figura do Atletismo português, o que resultou em inevitáveis comparações que deram origem a uma certa rivalidade entre ambos, mas Lopes não baixou os braços, mesmo que por vezes se sentisse abandonado, até por Moniz Pereira que também se virara mais para Mamede.

Durante esse difícil período que se estendeu até ao ano de 1981, Carlos Lopes em 1978 foi Campeão Nacional de Corta Mato pela 8ª vez e novamente Campeão de Portugal nos 10000m, mas daí para a frente alternou paragens mais ou menos prolongadas com regressos tímidos, na maior parte das ocasiões só para ajudar o Sporting nas competições por equipas, muitas vezes com algum sacrifício.

Foi assim que passou ao lado do Campeonato da Europa de 1978 e dos Jogos Olímpicos de 1980 e teve algumas participações menos conseguidas nos Mundiais de Corta Mato, desistindo em 1978 e 1981 e classificando-se no 26º lugar em 1980.

O milagre da ressurreição aconteceu por força das agulhas, num tratamento de acupunctura com o Mestre Koboyashi, um japonês radicado em Portugal, que o fez acreditar numa recuperação em que mais ninguém acreditava.

O regresso do velho senhor

Carlos Lopes na lama

As primeiras indicações de que a sua recuperação estava a caminho, aconteceram na época de 1981, quando fez 27,47,8m nos 10000m, uma marca muito próxima do seu melhor, na prova em que Fernando Mamede bateu o Recorde da Europa daquela distância. Seguiram-se novas vitórias nos 5000 e 10000m dos Campeonatos Nacionais e nos 10000m da Taça da Europa. Eram os primeiros sinais de que apesar dos seus 34 anos, ele ainda não tinha acabado.

A confirmação veio na temporada seguinte, com Carlos Lopes a ressurgir ao seu melhor nível, conseguindo mesmo superar-se, batendo os seus principais recordes pessoais. Nesta época Lopes começou por ganhar o Grande Prémio do Natal ainda em 1981 e em Janeiro venceu categoricamente o Crosse Memorial Muguerza em Espanha, com um novo Recorde da prova. Seguiram-se novas vitorias no Corta Mato, primeiro na Taça dos Campeões Europeus e depois nos Campeonatos Regional e Nacional, que neste último caso era o 9º título de Carlos Lopes, mais um feito ímpar deste grande atleta, que assim superava as 8 vitórias obtidas por Manuel Dias.

Um pequeno susto afastou Carlos Lopes do Campeonato Mundial de Corta Mato de 1982, mas afinal era apenas uma lesão insignificante da qual recuperou rapidamente, arrancando para uma excelente época na Pista, onde depois de ganhar os 5000m da Taça dos Campeões Europeus de Atletismo, melhorou o seu recorde pessoal nessa distância, durante o Torneio Internacional de Lisboa, onde ficou em 2º lugar logo atrás de Fernando Mamede.

A 26 de Junho de 1982 durante os Bislett Games em Oslo na Noruega, Carlos Lopes bateu o Recorde da Europa dos 10000m, com a marca de 27.24.39m, destronando o seu colega e rival Fernando Mamede, que poucos dias depois viria a recuperar esse Recorde.

No final da época Carlos Lopes voltou a ser vitima das corridas muito tácticas, terminando no sempre ingrato 4º lugar na prova dos 10000m dos Campeonatos da Europa, depois de ter liderado quase toda a corrida, acabando por não resistir na última volta, ao ataque dos atletas mais rápidos.

Em 1983 Carlos Lopes conseguiu finalmente repetir o feito de Manuel Faria, ao vencer a famosa Corrida de São Silvestre em São Paulo, algo que muitos atletas portugueses já andavam a tentar sem êxito à 25 anos. Dois anos depois repetiu a façanha, somando assim duas vitórias na maior clássica de estrada do mundo.

Ainda em 1983 foi pela 2ª vez vice-Campeão Mundial de Corta Mato, numa corrida verdadeiramente emocionante, disputada ao sprint por 4 atletas, com o etíope Debele Bekele a vencer por um peito mesmo em cima da meta. Na Pista foi Campeão de Portugal pela 2ª vez nos 5000m, e voltou brilhar nos 10000m dos Bislett Games de Oslo, numa prova onde fez a melhor marca mundial do ano, com o tempo de 27,23,34m, mas na 1ª edição dos Campeonatos do Mundo de Atletismo, não foi além de um 6º lugar, um pouco distante dos cinco atletas que discutiram as medalhas até ao último metro, em mais uma prova táctica, cujo vencedor foi cotado com um tempo acima dos 28 minutos.

Em 1984 Carlos Lopes foi pela segunda vez Campeão Mundial de Corta Mato, numa competição disputada em New Jersey, onde a equipa de Portugal conquistou a Medalha de Bronze na competição colectiva, e na temporada seguinte renovou esse título, sagrando-se Campeão Mundial de Corta Mato pela terceira vez, conseguindo feito idêntico na Taça dos Campeões Europeus dessa especialidade.

Ainda em 1984 foi Campeão Nacional de Corta Mato pela 10ª vez, e apesar da sua preparação já estar direccionada para a Maratona, bateu o seu recorde pessoal dos 5000m, com a marca de 13,16,38m, obtida nos Bislett Games de Oslo, numa corrida ganha por Fernando Mamede.

Uma semana depois no Meeting de Estocolmo na Suécia, obteve a segunda melhor marca mundial de sempre nos 10000m, percorrendo a distância em 27,17,48m, numa prova onde Fernando Mamede bateu Recorde Mundial, o que em grande parte se ficou a dever ao andamento imposto por Carlos Lopes, que comandou quase toda a corrida.

Em 1984 Carlos Lopes foi condecorado pelo Primeiro Ministro Mário Soares, com a Medalha de Honra de Mérito Desportivo e com o Colar de Mérito Desportivo e recebeu a Grã-Cruz da Ordem do Infante.

O homem da Maratona

Carlos Lopes na chegada da Maratona Olímpica de Los Angeles

Consciente de que dificilmente conseguiria ganhar uma corrida táctica, como eram tradicionalmente as Finais das grandes competições dos 10000m, Carlos Lopes resolveu virar-se para a Maratona, com o grande objectivo de vencer esta prova nos Jogos Olímpicos de Los Angeles.

Em Outubro de 1982 teve a sua primeira experiência na Maratona de Nova Iorque, onde desistiu, mas sentiu-se bem e poucos meses depois bateu o Recorde da Europa desta dura especialidade, ao classificar-se em 2º lugar na Maratona de Roterdão, com o tempo de 2,08,39h.

Em Abril de 1984 voltou a participar na prova holandesa, mas desta vez desistiu, embora mais tarde tenha confessado que isso fazia parte da sua preparação para os Jogos Olímpicos, que apenas previa que fizesse 30 quilómetros na Maratona de Roterdão.

A 12 de Agosto desse ano, Carlos Lopes trouxe para Portugal a primeira medalha de ouro olímpica da história do País, ao vencer a Maratona de Los Angeles, com a marca de 2,09,21h, que era um novo Recorde Olímpico que perdurou até aos Jogos de Pequim em 2008, quando foi batido por Samuel Kamau Wansiru, com o tempo de 2,06,32h.

Aos 37 anos de idade Carlos Lopes conseguira o triunfo que faltava ao seu extraordinário palmarés, mas prometeu continuar pelo menos mais um ano.

De regresso a Portugal foi recebido de forma apoteótica, e teve direito a um churrasco em São Bento, que lhe foi oferecido pelo Primeiro Ministro Mário Soares.

Depois foi recebido na Casa Branca pelo Presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan e no Palácio Real de Madrid pelo Rei de Espanha, D. Juan Carlos, que lhe entregou o Troféu para o Melhor Desportista do Mundo em 1984, concedido pela Union de Periodistas Deportivos de España.

Tinham bastado duas Maratonas para que Carlos Lopes se tornasse no Recordista da Europa da mais dura disciplina do Atletismo, e quatro para conquistar o título Olímpico dessa especialidade. Na quinta assistiu à queda do Recorde Mundial, ao ficar em 2º lugar na Maratona de Chicago, atrás do britânico Steve Jones, que percorreu os 42195 metros, em 2,08,05h, mas no dia 20 de Abril de 1985, Carlos Lopes voltou à Maratona de Roterdão para obter esse Recorde Mundial que lhe faltava, percorrendo a distância em 2,07,11h, sendo assim o primeiro atleta do mundo a baixar das 2 horas e 8 minutos.

A temporada de 1986 ficou marcada pelo fim de uma ligação de quase 20 anos entre o Sporting Clube de Portugal e Carlos Lopes, que à beira dos 39 anos de idade resolveu continuar a correr, mas passou a representar o Imortal de Albufeira, não deixando de se justificar perante os sportinguistas, explicando que as suas motivações não tinham nada a ver com questões de dinheiro.

Nessa última época Carlos Lopes correu a Maratona de Tóquio em homenagem ao Mestre Koboyashi, mas teve de desistir pois não estava suficientemente preparado. Pouco depois terminou a sua extraordinária carreira, tendo corrido e ganho a última prova em que participou, a mês e meio de completar os 40 anos de idade.

Um lugar na história

Carlos Lopes é sem dúvida uma das maiores figuras de sempre do Atletismo mundial, do desporto português e do Sporting Clube de Portugal, com o qual continuou a colaborar especialmente em eventos sociais, onde é reconhecido como um dos grandes símbolos do Clube de que foi considerado Sócio de Mérito, tenho sido distinguido 5 vezes com o Prémio Stromp (3 na categoria "Atleta Amador" e 2 na categoria "Olímpico").

Em Setembro de 2013 regressou ao Sporting como Director da secção de Atletismo, numa altura em que a nova Direcção liderada por Bruno de Carvalho empreendeu um substancial corte no orçamento da modalidade que mais títulos deu ao Clube, e prometeu manter a competitividade das equipas e recolocar o Sporting na disputa das vitórias no Corta Mato.

Em 2014 recebeu o prémio Leões Honoris Sporting na categoria Especial e em 2016 na categoria Dirigente.

To-mane 00h17min de 11 de Novembro de 2012 (WET)